CAIO
A quebrada inteira já tava em transe.
Aposta gritando, vapor pulando, pivete batucando em tampa de panela. O galpão virou arena, a favela virou torcida, e no meio daquele caos —
lá vem ela.
Aziza.
Com aquele jeitão de quem carrega o mundo no olhar e o julgamento na sobrancelha arqueada.
Parou na minha frente, braço cruzado, cara fechada.
Nem piscou.
— “Sério isso, Muralha?” — ela soltou, seca. — “Tu vai deixar essa palhaçada acontecer?”
Soltei a fumaça do cigarro bem devagar, de propósito.
Porque Aziza me conhece.
E mesmo conhecendo… ainda tenta.
— “Palhaçada nada.” — falei, sem levantar a voz. — “Isso aqui é tradição.”
— “Tu vai mesmo deixar tua mulher sair no braço com o Diguinho, no meio do galpão, com metade da favela apostando em cima?”
— “Tu já viu alguém deixar a Alana fazer alguma coisa?”
Ela bufou, indignada.
— “Isso é coisa de macho idiota. Tu devia proteger ela, caralho.”
Aí eu ri.
Mas ri com gosto.
Daqueles que vem da barriga.
— “Proteger de quê, Aziza? Do quê