📖 Capítulo 5 – O Pedido
Os dias seguintes foram um vai e vem de emoções. Ane tentava se ocupar com as aulas de Pilates, a hidroginástica, o curso de crochê que fazia mais para passar o tempo do que por paixão. No entanto, nenhum exercício, nenhum ponto de linha era suficiente para afastar o pensamento constante em Moreno. O celular era sua companhia mais fiel; cada notificação trazia esperança de ser ele. Moreno, por sua vez, fazia malabarismos para equilibrar a rotina. Trabalhava como educador físico numa pequena academia em Cienfuegos, ajudava o pai em bicos e ainda tinha as responsabilidades com a mãe. O dinheiro mal cobria as despesas da casa, e juntar para uma viagem ao Brasil parecia um sonho distante, quase impossível. Mas, mesmo cansado, sempre encontrava tempo para Ane. Numa noite de sábado, ele decidiu arriscar mais uma vez. A chamada de vídeo se abriu e o rosto dela apareceu iluminado pela luz fraca da sala. Ane estava de cabelo solto, cachos caindo pelos ombros, e usava uma blusa simples azul-marinho. Moreno sorriu como se visse uma obra de arte. — Buenas noches, mi bombón de chocolate. — Boa noite, meu amor… — respondeu, com um brilho tímido nos olhos. Conversaram sobre o dia dela, sobre a prova da filha na faculdade de Direito, sobre a novela que a mãe assistia religiosamente. Ele contou das dores nas costas de um aluno, das piadas sem graça dos colegas de trabalho, da saudade que carregava como um peso diário. Até que, num silêncio súbito, Moreno respirou fundo. — Ane… há algo que quero te dizer já faz tempo. Ela franziu a testa, curiosa. — O que foi? Ele parecia nervoso, ajeitou-se na cadeira e olhou fixo para a câmera, como se quisesse atravessá-la. — Quiero que seas mi esposa. O coração de Ane disparou. Por um segundo, não conseguiu falar. Os olhos se encheram de lágrimas. — Moreno… você está falando sério? — Claro que sí. Te pido matrimonio, mi bombón. No sé cuándo ni cómo podremos estar juntos, pero quiero que sepas que mi intención es seria. Quiero pasar mi vida contigo. As lágrimas escorreram pelo rosto de Ane. Ela apertou a mão contra o peito, como se tentasse conter a emoção. — Eu… eu aceito. — disse, entre soluços. — É o que eu mais quero. O sorriso dele iluminou a tela. Era como se todo o peso da distância tivesse desaparecido naquele instante. — Entonces, somos prometidos. Aunque el mar nos separe, estamos unidos. Riram juntos, emocionados. Ane enxugava as lágrimas, repetindo que estava feliz, que nunca pensou em viver algo tão intenso, tão verdadeiro. Ele a chamava de mi esposa, e ela ria, envergonhada, mas encantada. Depois da euforia, no entanto, veio a sombra da realidade. Ane suspirou fundo. — Mas… como vamos fazer, Moreno? Você não tem como vir, eu também não. A gente não sabe quando vai se encontrar de verdade. O semblante dele se fechou. — Lo sé, mi amor. Es difícil. Mi salario no alcanza. Apenas puedo ayudar en casa, nada más. Ela abaixou a cabeça, o coração apertado. — Eu queria tanto te abraçar, sentir o teu cheiro… às vezes penso que estamos vivendo um sonho que pode desmoronar a qualquer momento. Ele a interrompeu com firmeza. — No digas eso. No es un sueño, es real. Estamos luchando contra el tiempo y la distancia, pero lo que sentimos no se borra. Yo encontré en ti lo que siempre busqué. Ane voltou a sorrir, mas havia tristeza em seus olhos. — Eu creio em Deus, Moreno. E sei que nada é por acaso. Se Ele nos uniu, Ele vai nos dar uma saída. Moreno respirou fundo. Não queria discutir fé, não naquela noite. — Entonces confío en ti. Si tu fe dice que tendremos un futuro, yo camino contigo. O silêncio que se seguiu foi cheio de ternura. Ficaram apenas se olhando, como se gravassem cada detalhe um do outro na memória. Ane sabia que o pedido de casamento era um presente, mas também uma cruz: trazia felicidade e dor na mesma medida. Quando desligaram, Ane foi para o quarto, deitou-se e ficou orando, agradecendo a Deus pelo amor que tinha encontrado, mas também chorando pela incerteza do futuro. Moreno, sozinho em Cienfuegos, abriu o frasco de perfume barato que usava e pensou no dia em que poderia sentir, de verdade, o perfume da pele dela. Com um sorriso cansado, escreveu no caderno: "Prometida en la distancia, mi esperanza en la espera, aunque el mar nos divida, mi amor nunca se desespera." E adormeceu com a alma aquecida e inquieta ao mesmo tempo.