O sol batia de leve nas persianas do escritório de Rafael, mas o ambiente parecia frio.
Desde o encontro com Clarice, ele carregava um tipo de inquietação que não sabia nomear.
Não era culpa — era peso.
A sensação de que, ao tentar ajudar alguém, havia aberto uma porta que não devia.
Na tela do celular, uma notificação piscava:
Clarice: “Obrigada pela ajuda, Rafa. Você sempre soube acalmar tempestades.”
Ele leu e não respondeu.
Mas o simples fato de ler já o colocava num lugar incômodo.
O passado tem um talento especial pra parecer inocente quando retorna com voz mansa.
...
Lívia entrou sem bater, com o sorriso que sempre iluminava o ambiente.
— Bom dia, CEO do equilíbrio. — brincou, colocando uma xícara de café na mesa.
Ele sorriu, tentando parecer leve. — Bom dia, instrutora da paciência.
Mas o sorriso dele não alcançou os olhos.
Ela percebeu.
Rafael sempre foi transparente demais pra disfarçar energia.
— Tá tudo bem? — perguntou, sentando-se de frente pra ele.
— Tá sim. Só cansado.