A manhã da reunião amanheceu cinza, como se o céu também estivesse indeciso.
 Lívia chegou cedo.
 O blazer claro escondia as mãos trêmulas, mas o olhar — ah, o olhar — era o de quem havia decidido que a verdade vale mais do que o medo.
O convite oficial dizia apenas:
 “Comparecimento para esclarecimento de fatos – Conselho Executivo – 10h.”
Mas todos sabiam o que significava: julgamento público disfarçado de rotina.
Enquanto esperava, Lívia observou os reflexos no vidro.
 Via as próprias expressões como se fossem de outra mulher — uma versão dela que já tinha se cansado de pedir desculpas por sentir.
Ela respirou fundo e lembrou das palavras de Rafael: “A verdade nunca foi o problema. Foi o tempo.”
 Talvez, afinal, o tempo tivesse acabado.
Lá dentro, a mesa era a mesma do dia do julgamento: fria, alongada, simbólica.
 Camila estava ali, sorriso ensaiado, olhar atento.
 Rafael, de terno escuro, mais calado do que nunca.
 Havia algo de ferido e ao mesmo tempo sereno nele — o tipo de cal