O dia terminou carregado, como se o próprio ar da empresa tivesse absorvido os olhares tensos e os sussurros contidos.
Lívia saiu do escritório sentindo o corpo vibrar — não de medo, mas de excesso.
Excesso de sentimentos, de autocontrole, de tudo o que ela fingia que não existia.
Rafael a esperava no estacionamento.
Encostado no carro, com as mangas da camisa dobradas e o mesmo olhar que fazia o tempo desacelerar.
— Posso te deixar em casa? — perguntou, casual, como se não houvesse um turbilhão entre os dois.
— Eu aceito, mas só se você prometer dirigir sem tentar me desconcentrar — respondeu, rindo.
Ele ergueu uma sobrancelha. — Eu nem fiz nada ainda.
— Ainda — repetiu, cruzando os braços. — Esse é o problema.
Rafael sorriu e abriu a porta pra ela. — Entra logo, antes que eu prove que sou inocente.
O caminho até o apartamento dele foi silencioso, mas cheio de pequenas fagulhas.
O som da chuva fina no para-brisa, a luz amarelada dos postes refletindo no vidro, o perfume dele mist