A chuva começou como um sussurro distante sobre as janelas do hotel.
  Lívia estava deitada na cama, o abajur aceso, a mente desperta.
  O corpo, por outro lado, parecia não caber mais em si.
  O dia havia sido longo, cheio de reuniões, risadas contidas e olhares que se desviavam tarde demais.
  Tentou ler um relatório, mas as letras se embaralhavam.
  Tudo o que ela via, mesmo sem querer, era o rosto dele.
  O modo como a voz de Rafael se tornava mais grave quando dizia o nome dela.
  A forma como o sorriso dele parecia quebrar defesas que ela levou anos construindo.
  Um leve toque na porta a despertou dos pensamentos.
  Três batidas. Firmes.
  O coração disparou.
  Ela sabia, antes mesmo de se levantar, quem era.
  Abriu a porta devagar.
  Rafael estava ali — camisa aberta no pescoço, olhar indecifrável, respiração leve.
  Não disse nada.
  Apenas esperou.
  Por alguns segundos, nenhum dos dois se moveu.
  A tensão que os acompanhava há semanas pairava no ar, como uma promessa anti