EPÍGRAFE
"Não é sobre oferecer tudo. É sobre oferecer o que importa." AVERY WELLES “Logan Brythe e sua namorada Elle Holt aproveitam a nona viagem do ano na ensolarada Barbados“ Meu nariz se torce de desgosto enquanto jogo a revista na lixeira de metal aos meus pés. Nona férias? Ridículo. — Bom dia, senhora Miles. A senhora está aqui pelo senhor Brythe ou pelo senhor Miles? — cumprimento a mulher mais velha que aparece na minha frente. Seus lábios vermelho-rubi se abrem em um sorriso largo enquanto ela tira as luvas de couro pretas e as guarda na bolsa de grife Gucci. Ela é a mãe do meu chefe Lucian Miles e tia do senhor Brythe. — Quantas vezes, Avery? — ela ri. — É Laura. Estou aqui pelo Lucian, ele está por aí? — Tenho que ser profissional, né? — sorrio para ela. — Me dá dois minutos e eu ligo para ele. Ele estava em reunião às onze, mas tenho quase certeza de que já terminou. Quer um café enquanto espera? Laura balança a cabeça. — Não, querida, obrigada. Só diga a ele para não deixar a mãe esperando, ele vai me pagar o almoço. Concordo com a cabeça e disco o número do escritório do senhor Miles, passando a informação para sua assistente. Ouço Laura suspirar da área de estar em frente à minha mesa, levanto a cabeça e dou uma olhada no que ela está lendo, exatamente a mesma revista que eu tinha jogado no lixo, junto com uma casca de banana e um desenho de boneco palito do meu horário de almoço. — Triste, não é? — diz ela, folheando até encontrar a página dupla. — É quase como se ele fosse completamente cego em relação a ela. Mantenho a boca fechada, contendo meus pensamentos sobre a situação, embora estivessem prestes a transbordar. Ele era meu chefe, eu não podia arriscar minha posição no único emprego estável que já tive, deixando minha boca grande falar sozinha. Principalmente para a tia amorosa que era mais como uma segunda mãe para ele. O elevador apitou e as portas se abriram. — Mãe. O humor de Laura melhorou imediatamente quando ela largou a publicação de fofocas e se levantou. Sua estrutura pequena foi engolida pelo físico muito mais alto e largo do filho. Meu coração se aqueceu. — Eu estava pensando que você me faria esperar. — Bem, me disseram que eu estava sob ordens estritas de não fazer isso. — ele olhou por cima do ombro dela para a revista e estreitou os olhos ao ver as manchetes. — Alguém parecia feliz. — Alguém parecia não ter escolha. — murmura Laura, pegando sua bolsa do chão e colocando-a na curva do braço no momento em que o telefone da recepção tocou. — Boa tarde, Sede da JD, aqui é a Avery. Como posso ajudar? — Avery. — o porteiro ofegante se apressa, os dentes batendo levemente por causa do frio intenso de outubro. — Escute, você sabe que eu nunca passo por aqui, mas houve uma entrega no hall de entrada para o senhor Brythe e a funcionária responsável acabou de voltar para casa doente. Seria pedir demais que você viesse buscá-los? — Já desço, deixa eu chamar alguém para me substituir. — digo a ele, ouvindo o suspiro de alívio. Todos sabiam que, assim que uma entrega chegava, precisava ser enviada imediatamente para o andar superior, para o senhor Brythe. Nosso último entregador sofreu as consequências depois de entregar papéis atrasados ao senhor Brythe e arriscar um contrato importante. Ele foi demitido na hora. — Ela está doente de novo? — ouço o senhor Miles perguntar enquanto disco o número do escritório da Lisa. Ela era a contadora do andar de cima, mas também a recepcionista reserva para quando eu ia almoçar ou ir ao banheiro. Concordo com a cabeça e ele encolhe os ombros. — É a quinta vez nas últimas duas semanas que ela foi para casa doente, o Logan já a avisou. Vá, eu fico aqui. Você não se importa, né, mãe? Laura balança a cabeça, sentando-se novamente na cadeira caríssima de veludo vermelho que ocupava a sala de espera lindamente iluminada e arejada. Agradeço e corro para o elevador, chegando bem a tempo. Eu odiava elevadores. A música horrível e assustadora, os silêncios constrangedores e assustadores, sem esquecer o medo avassalador de ficar presa lá dentro após um colapso repentino. Mas eu não conseguia ouvir a música, e certamente não era silencioso, porque ao entrar fui recebida pela própria Barbie ambulante de um milhão de dólares, a senhorita Elle Holt. Só os sapatos dela valiam mais do que todo o meu guarda-roupa, e a roupa dela provavelmente custava mais do que o meu apartamento. — Hum, dez dias não foram suficientes. Eu mal consegui um bronzeado. Senti uma vontade repentina de revirar os olhos, sabendo muito bem que ela estava falando sobre sua última aventura na ilha caribenha com o senhor Brythe. O senhor Brythe e Elle Holt eram o assunto da cidade. O pai dela era um bilionário que se fez sozinho, a partir de então, empurrando os filhos para uma vida de luxo. Ela e o senhor Brythe estão namorando há pouco mais de cinco meses, mas, tirando as fotos ocasionais em revistas, eu nunca os tinha visto juntos. Ela riu de repente e meus ouvidos não conseguiram parar de escutar, mesmo que minha mãe me desse um tapa na nuca por fazer isso. Boas maneiras. — Vou buscá-lo amanhã, é um Mercedes conversível. Uma versão melhor que a dele, mas ele pediu a cor errada. Quem dirige um carro preto normal? Que chato... — o desgosto escorre da língua dela. Eu bato o pé, meus dedos grudados uns nos outros, enquanto observo o número de andares passar lentamente. Maldição, estar no décimo quarto andar. Ela ri de novo. — Bem, isso vai ensiná-lo a reservar uma viagem mais longa. Ele se safou com o carro sem problemas, eu poderia ter pedido um jato combinando. Meus olhos se arregalaram. Jato? Tipo um jato particular? — Tem gente que realmente se contenta com pouco... emprego de recepcionista, sapato gasto, roupas de brechó. Triste. — Elle disse com um risinho debochado, sem sequer me olhar diretamente. Parei no mesmo instante. Meu corpo inteiro se enrijeceu. Me virei devagar, Elle estava com um sorriso de canto, os braços cruzados, e me olhou com fingida surpresa quando nossos olhares se cruzaram. — O que você disse? — perguntei, a voz baixa, e meu sangue fervendo sob a pele. Ela deu de ombros, o olhar cínico cintilando sob os cílios longos. — Eu? Nada. Mas, se a carapuça serviu... E saiu do elevador antes que eu pudesse dizer mais alguma coisa, os saltos batendo com força contra o chão de mármore como se desafiassem o mundo inteiro e eu junto.