AVERY WELLES
— Ah, minha salva-vidas! — O porteiro suspirou, enfiando o envelope marrom abarrotado no meu peito. — Obrigado, trago um café para você amanhã! — Nada de café, só chá! — grito para ele. Ele tira o chapéu rapidamente antes de ser sugado para dentro das portas giratórias e desaparecer para sua posição do lado de fora. Volto para o elevador, espremida lá dentro como uma sardinha em lata. Abraço o envelope contra o peito, a conversa entre Elle e o misterioso interlocutor martelando em minha mente. Ela forçou o senhor Brythe a comprar um carro novo porque a viagem não era longa o suficiente? Ela se esqueceu das outras nove viagens durante o ano? Paris, Berlim, Milão e Maldivas, só para citar algumas. Franzo a testa instantaneamente. Eu trabalhava duro todos os dias, das nove às cinco, seis dias por semana, sem contar as horas extras, e ainda não tinha me aventurado a sair da cidade por um dia, muito menos por uma semana. Sua ingratidão me fez arrepiar. Quando chegamos ao último andar, o elevador estava vazio e as portas se abriram. O vigésimo primeiro andar era onde ficavam os escritórios do senhor Brythe e do senhor Miles. Ninguém, além de seus assistentes pessoais, Vic, a entregadora, e a recepcionista, tinha permissão para subir ali e, mesmo assim, podiam ir até a mesa na frente do andar oval. — Avery, o que você está fazendo aqui? — perguntou Lisa, com os olhos brilhantes e o sorriso largo. Ela parou de girar na cadeira do escritório, algo que eu fazia de vez em quando, para me cumprimentar. Lisa era alta e extremamente magra. Costumávamos brincar que ela estava na mesma categoria das modelos da Victoria’s Secret, só que eu nunca brincava. Ela realmente se passava por uma. Ela trabalhava na sede da JD há pouco mais tempo do que eu, ambas acumulando um total de três anos aqui. Ela, claro, era muito mais importante e, sem dúvida, mais inteligente. Quer dizer, eles confiavam nela para cuidar das contas. Dinheiro, privacidade e mais dinheiro. Isso era alguma coisa. — Eu estava procurando por você, Tony ligou. Victoria foi para casa doente. — De novo? Assenti e franzi a testa quando ela me interrompeu, mas ela sorriu timidamente e acenou para que eu continuasse. — Então, tive que ir buscar esses papéis para o senhor Brythe. Ela pegou o envelope pardo das minhas mãos e o colocou fora de vista sobre a mesa. Cruzou os braços e franziu a testa antes de dizer: — Ele deve sair logo. A Elle acabou de sair, parecia bem convencida de alguma coisa. — Tenho quase certeza de que sei o que é. Seus olhos se arregalaram. — O quê? Diga-me, por favor, me dê algo interessante para pensar enquanto morro de tédio aqui em cima. Natália está no intervalo e eu juro, aquela mulher merece uma medalha por ficar sentada aqui o tempo todo. — Bem, além de não demonstrar nenhuma gratidão, ela estava se gabando de ter pedido ao semho Brythe para comprar um carro novo para ela, um Mercedes conversível, devo acrescentar, porque ele não reservou uma estadia mais longa para eles em Barbados — explico, observando Lisa torcer o nariz. — Ela até teve a audácia de reclamar da cor. — Vadia ingrata. Estremeço com o uso das palavras dela. Eu não era puritana, um palavrão saía da minha boca de vez em quando, mas eu ainda os odiava. — Ela até disse que ele saiu impune com o carro, que ela poderia ter pedido um jato. — O quê? Concordo com a cabeça: — Exatamente. Um jato. Ela está falando sério? Agradeça por ele te dar atenção. — Faz você se perguntar, não é? Ela está com ele, ou com a conta bancária dele? — pergunta Lisa. — Você precisa mesmo perguntar? — Reviro os olhos e apoio os braços cruzados na brilhante mesa de carvalho. — Nove férias, um carro novo, uma infinidade de roupas, sapatos e bolsas, e idas ao cabeleireiro três vezes por semana? Tudo com o cartão e o dinheiro dele. Ela não o ama, ela ama o dinheiro dele. — Sem falar no jantar todas as noites. — Lisa resmunga, bufando. — Deve ser bom. Balanço a cabeça: — Dinheiro não faz ninguém feliz. Todos nascem do mesmo jeito e morrem do mesmo jeito, com dinheiro ou não. As palavras da minha amada mãe se repetem na minha cabeça: Uma pessoa deve ter dinheiro na cabeça, não no coração. — Droga! — eu ofego. — Deixei o senhor Miles e a mãe dele me esperando lá embaixo! Tenho que correr, te vejo em breve, Lisa! — Se eu não morrer de tédio antes! Atravesso correndo as portas do elevador, com os olhos arregalados enquanto o senhor Miles se apoia na minha mesa de vidro e mexe nas rosas murchas, observando as pétalas caírem no chão de mármore sob seus pés. Laura grita para ele pegá-las assim que me vê. — Senhor Miles, sinto muito! Eu... — Avery — ele ri, esfregando as mãos no pedal ao lado do bebedouro. — Achei que já tinha te contado que meu nome é Lucian, o senhor Miles é meu pai, ou então o nome que eu uso quando ajo de forma intimidadora. Minhas bochechas ficam vermelhas quando retorno ao meu assento. — Seu telefone tocou, passei a mensagem para Noah no dia 16 e também enchi sua garrafa de água, pois estava acabando. — Senhor... — antes que eu pudesse começar a me desculpar, ele me interrompeu rapidamente, erguendo as sobrancelhas. — Lucian. — Obrigada, você não precisava fazer isso. Ele dá de ombros, estendendo o cotovelo para o braço da mãe passar. — É bom se manter hidratado. Precisamos ir antes que o Doug me repreenda por estar atrasado para outra reserva. — Tenham uma boa tarde. — sorrio calorosamente para a mãe e o filho que entram no elevador. Antes que as portas se fechem, ouço meu nome. — Talvez você queira reconsiderar sua escolha de flores na próxima vez, rosas nunca duram muito. As portas se fecharam e eu respirei fundo, recostando-me na cadeira de couro. De qualquer forma, rosas nunca foram minhas preferidas.