Narrado por Morte
Já faz tempo que tô trancado nesse buraco. Desde aquele dia maldito em que o exército invadiu o morro, armado até os dentes, destruindo tudo pela frente e levando minha liberdade junto. Lembro como se fosse ontem… minha mulher tombando com um tiro no peito, bem na frente dos nossos filhos. Ela morreu tentando proteger o que restava da nossa família, e essa cena nunca saiu da minha cabeça. Ela era o coração da nossa casa. Depois que ela se foi, tudo desandou.
A cadeia engole a gente por dentro. As paredes são sempre as mesmas, o tempo não passa, e a cabeça vira uma bomba prestes a explodir. Aqui dentro, eu fui virando pedra. Mas o que mais me destrói não é estar preso. É ver o que fizeram com meus filhos lá fora. Ver a guerra que se formou entre eles. O sangue que correu por culpa de escolhas que talvez eu mesmo tenha plantado lá atrás.
Minha filha, Bruna… sempre foi forte, decidida. Mas o coração dela foi ficando duro com o tempo. As coisas que ela viu, que ela viveu