"We are just lost stars trying to light up the dark."
— Trecho de "Lost Stars", Adam Levine (Tradução: "Somos apenas estrelas perdidas tentando iluminar a escuridão.") O sol da tarde já se escondia por entre as árvores da Serra Lunar, tingindo o céu de dourado e lilás, quando Ayla voltou para casa. Após o almoço, ajudou a mãe na cozinha, lavando os pratos enquanto cantava baixinho, ainda sonhando com o encontro do dia anterior. Depois, subiu para o quarto, pretendendo apenas organizar algumas coisas... mas acabou adormecendo no meio da arrumação, com o livro aberto sobre o peito. Acordou com um salto, os olhos piscando para o relógio na parede. — Ainda dá tempo! — murmurou para si mesma. Correu até o cruzamento combinado, as sandálias batendo apressadas contra o chão de terra batida. O vento bagunçava seus cabelos soltos, e o frio da serra começava a invadir a pele. Ela esperou. E esperou. O tempo parecia se arrastar. Cada carro que passava a fazia prender a respiração — para logo em seguida soltá-la, desapontada. Quando o relógio se aproximava das 19h, Ayla, com o coração pesado, decidiu voltar para casa. (Pensamento de Ayla) "Fui ingênua em acreditar que ele viria?" Tentou afastar a tristeza e distrair a mente nos dias seguintes: pescou com o pai às margens do rio, riu alto ao ver Rafael escorregar nas pedras lisas, sentiu a água fria nas pernas enquanto brincava. Descobriu até uma cachoeira escondida na mata, que prometeu explorar depois. Mas, no fundo, a ausência dele a incomodava mais do que gostaria de admitir. --- — Ayla, vamos descer para fazer umas compras e pagar umas contas. — disse Helena, chamando-a enquanto terminava de dobrar algumas roupas. — Quarta-feira é véspera de Natal, precisamos decorar a casa! Quer ir com a gente ou vai ficar? Ayla abraçou o travesseiro, um sorriso preguiçoso brincando nos lábios. — Acho que vou ficar... tô com uma preguicinha. — Tudo bem, mocinha preguiçosa. — Rafael riu. — Qualquer coisa, nos liga. Ela acenou, vendo os pais saírem pela estrada empoeirada, o carro desaparecendo entre as árvores. À noite, o celular vibrou sobre a mesinha de cabeceira: "O mercado está lotado. Vamos dormir por aqui e subimos amanhã cedo. Te amo!" Com um suspiro, Ayla decidiu aproveitar a noite. Pegou uma manta, um livro, um chocolate quente improvisado e seguiu para a pequena clareira perto da fogueira, sob o vasto céu estrelado. Sentou-se, enrolada na manta, e deixou a mente viajar enquanto lia. As palavras do livro se misturavam às lembranças recentes: o som da voz dele, o brilho nos olhos ao falar de música. Foi quando ouviu. Passos. Galhos se partindo. O coração acelerou. Com mãos trêmulas, pegou um pedaço de lenha da fogueira, pronta para se defender. — Ai, que susto! — a voz familiar soou, fazendo-a quase largar a madeira. — Quer me matar do coração? E se eu acertasse esse galho na sua cabeça? Ela girou e o viu: Noah, com as mãos erguidas em rendição, um sorriso travesso nos lábios. — Ixi... ia virar churrasco. — completou ele, rindo e esfregando a nuca. Ayla baixou o pedaço de lenha, tentando disfarçar o alívio. — O que faz aqui... — ela olhou no relógio de pulso — ...às oito da noite? Pensei que nem lembrava que eu existia. Noah sentou-se ao lado dela, o calor da fogueira iluminando o contorno de seu rosto. — Vim me desculpar. Naquele dia, não consegui sair. Meus pais voltaram mais cedo. — explicou, fitando as chamas. — Eles nem perceberam que alguém passou por lá. Cadê seus pais? — Só voltam amanhã. — respondeu Ayla, abraçando os joelhos. Hesitou por um instante, depois arriscou: — Quer... entrar? Sua voz saiu mais tímida do que pretendia. Noah aceitou, e logo estavam sentados na varanda, sob um céu absurdamente estrelado. A lua cheia lançava reflexos prateados sobre o riacho ao lado, e o som das cigarras preenchia a noite. — Noah, seu sonho sempre foi cantar? — Ayla inclinou-se para frente, curiosa. Ele sorriu, o olhar perdido nas estrelas. — Quando era pequeno, eu queria ser bombeiro. — respondeu, fazendo um gesto de quem segurava uma mangueira de incêndio. — Mas meu avô era professor de piano. Um dia, um aluno dele faltou, e eu comecei a cantar sem querer. Ele me ouviu... e nunca mais me deixou parar. — Então, se não fosse seu avô, você estaria numa escola qualquer? — Ela balançou a cabeça, rindo. — Que desperdício de voz... — ela hesitou, corando — ...e de beleza. Noah corou também, surpreso com a sinceridade dela. Mas logo riram juntos, a timidez dissolvida no calor da fogueira. — Imagina você famoso, com fãs correndo atrás, e eu chegando na escola com um autógrafo: "Para minha primeira fã, Ayla, com carinho." Todo mundo morrendo de inveja! — brincou ela, encenando. — Mas pensando bem... eu nunca teria paz com isso. Melhor ficar quieta. — completou, fazendo ambos rirem novamente. — E você? Qual seu sonho? — perguntou Noah, genuinamente interessado. — Pensei em ser cineasta, mas não gostei das pesquisas. Agora, quero trabalhar com livros... ou câmeras. Editar, escrever. Amo o cheiro de papel e a magia de transformar imagens em histórias. — Meus pais agora são meus empresários. — disse Noah, o tom mudando levemente. — Minha mãe era advogada, meu pai contador. — Meus pais são médicos. Meu pai também é voluntário na Cruz Vermelha. — Ayla contou, os olhos brilhando de orgulho. — E minha mãe ainda ajuda quando pode. A conversa fluiu como um riacho calmo, cheio de curvas suaves. À medida que a noite esfriava, entraram e acenderam a lareira. Ayla adormeceu no sofá, a manta escorregando de seus ombros. Noah a cobriu cuidadosamente e deixou um bilhete em cima da almofada: "Gostei da nossa noite. Se quiser conversar ou marcar algo, meu número está aqui. Não sou totalmente prisioneiro — posso te levar à cachoeira qualquer dia. Ass.: Seu (futuro) popstar, Noah." Na manhã seguinte, o primeiro raio de sol a acordou. Meio sonolenta, viu o bilhete ao seu lado. Um sorriso enorme iluminou seu rosto enquanto salvava o contato dele no celular. Número do futuro popstar salvo com sucesso. Enquanto isso, Noah caminhava de volta para casa, o coração leve como nunca sentira antes. (Pensamento de Noah) "Este é o primeiro verão, desde a morte do vovô, em que me sinto... verdadeiramente feliz." __________ "Entre fogueiras e sorrisos tímidos, nasceu algo que nem o tempo teria coragem de apagar." By: Yumi