Nosso Encontro

"Dizem que, às vezes, a alma reconhece quem o coração ainda não aprendeu a lembrar."

— Trecho inspirado em "Somewhere Only We Know", Keane

O sol da manhã tingia o céu de tons dourados e alaranjados, enquanto a brisa fresca trazia o aroma de pinheiros misturado ao cheiro de terra molhada. Ayla espreguiçou-se, sentindo o calor agradável invadir seu quarto.

— Bom dia! Depois do café, vou caminhar por aí. Tem tantos lugares lindos pra conhecer! — anunciou, já de pé, o rosto iluminado pela empolgação.

— E eu que ia te convidar pra pescar hoje... — Rafael fingiu uma expressão magoada, cutucando Helena com o cotovelo. — Sua mãe ia fritar os peixes pra nós.

— Já vi que vai sobrar pra mim, né? — Helena revirou os olhos, mas sorriu, divertida.

— Nada disso, meu amor. Depois que limparmos os peixes, te faço aquela massagem... — sussurrou Rafael, piscando.

— Ihhh, essa é minha deixa! — Ayla riu, levantando as mãos. — Se amem à vontade! Amo vocês, mas agora vou me arrumar pra sair!

Subiu as escadas em passos leves, ainda rindo, e escolheu uma roupa confortável: um short jeans claro, uma camiseta branca e tênis de caminhada. Pegou sua câmera digital — companheira inseparável — e desceu para tomar café.

Enquanto mastigava uma fatia de bolo de milho, a melodia da noite anterior ecoava em sua mente como um sussurro persistente.

(Pensamento de Ayla)

"Acho que quem estava tocando era o pai daquele senhor... Mas também pode ter sido a mãe. É muita tristeza pra alguém tão jovem."

Esse pensamento a acompanhou enquanto caminhava entre as trilhas de pedras e árvores centenárias. O ar fresco da serra preenchia seus pulmões, trazendo uma sensação de liberdade que há muito ela não sentia.

Quando chegou à casa misteriosa, o coração disparou. A propriedade parecia ainda mais encantadora à luz do dia: madeira antiga, trepadeiras subindo pelas paredes, um balanço de corda pendendo de uma árvore robusta.

Ayla viu um homem e uma mulher saindo de carro. Agora era sua chance.

Assim que o som dos pneus sumiu pela estrada de cascalho, Ayla se aproximou silenciosamente. O canto suave ainda ecoava da casa, como se cada nota fosse desenhada no vento.

Aproximou-se de uma das janelas. Antes que pudesse espiar direito, uma voz próxima a fez pular.

— Está perdida?

Ayla deu um salto tão grande que bateu a testa na moldura da janela.

— Ai! — levou a mão à testa, sem graça.

— Desculpa! Não queria te assustar. — A voz era suave, quase musical. — Está procurando algo? Se perdeu ou só está... xeretando?

(Pensamento de Ayla)

"É uma voz bonita... Será que é o cantor?"

Virou-se devagar, sentindo o rosto esquentar.

— Desculpa a intromissão. Ontem ouvi alguém cantando e achei lindo. O pianista parecia tão triste... Era seu avô? Sua avó?

O rapaz riu, e Ayla notou que era um som leve, contagiante.

— Bom, o "idoso" era eu mesmo — ele brincou. — Mas a melodia não é minha. — Deu um passo à frente, oferecendo a mão. — Deixe-me me apresentar: sou Noah. Futuro ídolo seu e de todos. E você é?

— Nossa, que falta de educação! — Ayla corou ainda mais. — Sou Ayla.

Apertaram as mãos — e foi como se uma corrente elétrica percorresse o corpo de ambos. Um arrepio suave subiu pelos braços dela.

Noah era mais alto, com porte atlético, cabelos castanho-escuros levemente bagunçados e olhos que pareciam enxergar além das palavras. Ayla, com seus 1,55m, sentiu-se pequena, mas estranhamente segura.

— Que bom que gostou da minha voz — Noah sorriu. — O que faz por aqui?

— Meus pais compraram uma casa mais abaixo. Ontem ouvi você cantar e... bem, quis conhecer o dono daquela voz. Você mora aqui?

— Não. Venho nas férias pra ensaiar. Ano que vem é minha estreia, e meus pais estão mais nervosos que eu.

Foi então que Noah reparou no vermelhão na testa dela.

— Você bateu a testa quando te assustei? Desculpa mesmo! Vamos colocar gelo nisso.

Ele a conduziu com cuidado para dentro da casa. O interior tinha cheiro de madeira polida e livros antigos. Ayla observou detalhes enquanto caminhavam: quadros de paisagens, estantes cheias de partituras, instrumentos espalhados.

Sentou-se à mesa da cozinha enquanto Noah vasculhava o freezer.

— Obrigada. Você está sozinho? — perguntou, massageando a testa com os dedos.

— Pela primeira vez em dias — ele riu, colocando um saquinho de gelo na testa dela com delicadeza. — Se fossem meus pais que te encontrassem, já estariam te expulsando.

Ayla riu, um som cristalino que fez o peito dele aquecer. Percebendo o constrangimento dela, Noah mudou de assunto.

— Acho que tô começando a acreditar em destino...

Antes que ela pudesse responder, o som de um carro ecoou lá fora.

— Meus pais são... superprotetores com essa coisa de carreira. — Noah revirou os olhos. — Sobe, por favor. É o último quarto do corredor.

Ayla acenou e subiu correndo. O andar de cima tinha piso de madeira que rangia suavemente sob seus passos. Quando abriu a porta do quarto dele, prendeu a respiração.

Era um estúdio improvisado.

Pôsteres de shows, fotos dele cantando desde pequeno, troféus de concursos locais. Nenhuma imagem dos pais. Era como se aquele espaço fosse só dele.

Noah apareceu na porta, sorrindo.

— Eles só esqueceram a carteira — explicou. — Preparei um lanche. Vamos descer?

Na varanda, Noah serviu sanduíches simples e suco fresco. O sol agora dourava o horizonte, lançando reflexos nas águas do riacho ao lado.

— Você disse que achou a melodia triste. Estuda música?

— Hahaha, nem sei batucar na mesa! — Ayla riu. — Mas já vi filmes suficientes pra reconhecer uma música triste. Sua voz, porém... não soava assim. Como isso é possível?

— Não posso revelar meu segredo tão fácil assim — Noah piscou. — Teremos que nos encontrar outras vezes pra eu te contar.

— Assim não vale! — Ayla riu, jogando uma migalha de pão nele.

A conexão entre eles fluía como um riacho livre.

Conversaram por horas, sobre música, livros, filmes e sonhos. O tempo parecia escorrer entre os dedos.

Quando o sol começou a mergulhar atrás das montanhas, Ayla se levantou, relutante.

— Preciso ir... mas podemos nos encontrar amanhã, no cruzamento perto da minha casa? No fim da tarde?

— Combinado — Noah sorriu, o olhar brilhando.

— Vou adorar ter um amigo popstar — brincou ela, afastando-se. — Vou ficar rica vendendo seus autógrafos!

Enquanto caminhava de volta, viu o carro dos pais dele chegando.

(Pensamento de Ayla)

"Será que ele realmente vai aparecer?"

Mas, no fundo, seu coração sabia.

Aquele encontro não tinha sido apenas entre dois corpos.

Eram duas almas... que, de algum modo, sempre pertenceram uma à outra.

E o verão... mal havia começado.

"Às vezes, basta um olhar para que duas vidas jamais voltem a ser as mesmas." By: Yumi

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