Layla
Traição tem um cheiro. Não é perfume, nem suor. É algo ácido, que entra pelas narinas e corta por dentro. Eu senti esse cheiro no instante em que vi Soraya atravessar a porta da cafeteria, andar decidida na minha direção e sentar sem pedir permissão.
— Precisamos conversar. — ela disse, sem maquiagem pesada, como se a cara lavada fosse uma desculpa para a sujeira que vinha por baixo.
— Você não foi convidada. — retruquei, mexendo no café só para não jogar a xícara na cara dela.
— Sempre tão defensiva. — Ela riu, um som que antes eu achava cúmplice, mas agora parecia vidro arranhando metal — Acha que engana alguém com essa pose de santa?
— E você acha que engana alguém com essa de amiga, sua talarica?
O sorriso se manteve, mas os olhos dela queimaram com algo cru.
— Sabe o que é engraçado, Layla? Você sempre teve tudo sem esforço. Família amorosa, amigas que te seguem, uma ONG que faz as pessoas te aplaudirem. E eu? Eu era só a sombra. Até que encontrei Bart.
Meu coração acelerou