Kaleo
A notícia chegou antes do som, o corredor inteiro silenciou de um jeito estranho, como quando um predador entra num galinheiro. Depois veio o barulho. Porta batendo, coisa caindo, vozes agudas virando eco.
Eu estava estacionado do outro lado da rua, dentro do carro, cumprindo a promessa silenciosa de ficar por perto. O corpo se moveu antes do pensamento.
Quando atravessei o portão da ONG, reconheci o timbre: Bart. O ex-príncipe, sem o verniz, quebrando o cenário que ele sempre fingiu admirar.
Ele invadiu o saguão, varrendo prateleiras de ração com o antebraço, sacos estourando como granadas de milho. Um filhote latiu fino, duas crianças colaram nas paredes, voluntários congelaram, entre choque e raiva.
Layla estava no meio, de jaleco e luvas, o cabelo preso num coque desastrado. O rosto dela fez aquele movimento mínimo que só eu vejo, um medo antigo tentando vestir a armadura nova.
— Você me humilhou. — Bart cuspia as sílabas, com os olhos febris — Na frente de todo mundo. Voc