Kaleo
A manhã veio cinza como lençol de hospital. Layla abriu os olhos devagar, surpresa ao me ver no chão.
— Você não foi embora.
— Já discutimos que eu sou teimoso.
— Está desconfortável aí.
— Só o suficiente para eu lembrar que estou vivo.
Ela sentou, ajeitou os cabelos com mãos que já tremiam menos. O inchaço ao redor dos olhos cedeu um pouco, deixando o âmbar outra vez visível. Eu a encarei como quem confere termômetro.
— Você vai trabalhar? — perguntei.
— Vou. — Hesitou — Não quero explicar nada para ninguém, mas quero estar com os bichos. Eles não cobram narrativa.
— Eles pedem ração e empatia. — Fiquei de pé — Posso te levar.
— Eu pego ônibus.
— Eu posso dirigir um ônibus.
— Você não sabe ficar sério.
— Seriedade é superestimada entre sete e nove da manhã.
Ela levantou, os pés descalços tocando o piso frio. Deu três passos e parou na porta do quarto.
— Tem uma camisa sua na cadeira. E eu nem sei como foi parar ali.
— Já deixei o casaco. Posso montar um guarda-roupa.
— Nem brin