Kaleo
A madrugada mastigou o resto de chuva e cuspiu um silêncio que parecia mais pesado dentro do apartamento dela. Eu fiquei. Não por tática, por teimosia. E porque, em voz que não digo em lugar nenhum, era o único lugar em que eu queria estar.
Layla se enrodilhou no sofá, olhos inchados, o meu casaco nos ombros pequenos. Eu puxei a manta do encosto e cobri suas pernas. Ela fungou, levantou o queixo num gesto que eu já decorei, orgulho tentando sobreviver com pouca munição.
— Você vai ficar me olhando até quando? — perguntou, áspera de propósito.
— Até a sua respiração voltar a conversar com o resto do corpo.
— Que poético. — Ela revirou os olhos — E assustador.
— Posso piorar. — Sentei na poltrona, de frente — Normalmente eu também faço metáforas sobre incêndios.
— Prefiro quando você ameaça, sabe? Parece mais honesto.
— Tudo em mim é honesto. — Inclinei a cabeça — Exceto quando eu tento ir embora.
Ela bufou. O silêncio voltou, carregado de cacos. Eu aguentei. Eu posso aguentar, me