Layla
Passei três dias sem abrir as cortinas. A luz parecia uma afronta, o barulho da rua um deboche. Minha vida tinha se reduzido a um silêncio pesado, cortado apenas por goles de café frio e pelas próprias lágrimas que eu jurava não derramar, mas derramava.
Bart. Soraya. As duas palavras soavam como veneno letal e ecoavam dentro de mim como um refrão cruel. Eu ainda podia ouvir a risada dela, ainda podia ver o jeito dele mentindo com calma, como se tivesse treinado cada sílaba para me manter cega.
Sarah ligava. Meus pais mandavam mensagens. Minhas irmãs batiam na porta. Eu inventava desculpas, fingia febre, trabalho demais, qualquer coisa que me impedisse de falar sobre o vazio que estava me engolindo.
Na terceira noite, quando o vento batia na janela e a chuva voltava a cair, veio a batida. Duas vezes, pausadas. O coração disparou. Eu sabia. O corpo sempre sabia.
Abri a porta sem perguntar. E lá estava ele.
Kaleo, encostado na lateral do batente como se fosse dono da minha vida. O