Kaleo
A madrugada me encontrou encostado na porta da casa dela, rindo baixo do absurdo que sou. Saí devagar para não acordar ninguém ao redor e atravessei a rua com o corpo ainda vibrando, pele ardendo do lugar onde a boca dela me rememorava como brasas. Voltei a pé, sem chamar carro, como se o asfalto frio pudesse me ensinar disciplina. Não ensinou.
Na cobertura, larguei o terno como quem abandona uma armadura que finalmente pesou. A cidade dormia em blocos. Eu, não. O ar do terraço tinha gosto de antes e depois.
O antes: Adrian, o sangue, a chuva, a culpa que eu escolhi desenhar com o rosto dela. O depois: Layla com o cabelo bagunçado nas minhas mãos, os olhos intensos me dizendo “quero” a cada vez que minha voz pedia que ela falasse.
Deitei no sofá sem acender as luzes e fechei os olhos por cansaço, não por vontade. O sono, inimigo raro, me venceu de surpresa.
Sonhei.
No sonho, a casa era a mesma, mas o tempo tinha esquecido o relógio. Ela veio na minha direção sem o medo que vest