Layla
Eu passei a manhã repetindo para mim mesma que ia ser só uma reunião. Uma. Reu-ni-ão. Cinco sílabas, uma hora de duração e pronto. Nada de coração acelerado, nada de mãos suando, nada de lembranças de um corredor com pouca luz e um sussurro que não devia existir. Só que a mente tem o péssimo hábito de rir dos combinados que a gente faz com ela.
A ONG nos conseguiu uma sala emprestada no Instituto Cultural do centro, parede de vidro, mesa minimalista, vista para o jardim interno, crianças em visitas escolares correndo lá fora. Quase poético. Quase seguro.
Sarah ajeita a pilha de pastas à minha frente, uma caneta presa no coque como se fosse espada.
— Respira, Lay. Se ele vier com história, você faz realidade.
— Realidade cansa. — falo, ajeitando o blazer simples — Mas não mata.
— Mata, não. Só emagrece. — ela ri, e o riso dela é meu amuleto.
A porta de vidro desliza. O ar muda um grau. Eu não preciso levantar a cabeça para saber por quê.
Kaleo.
Entra sem pressa, como quem já era