Layla
Eu achava que a cabeça esvaziava quando a gente esfregava o chão da sala de atendimento. Mentira. A cada passada de rodo, as lembranças do que aconteceu na ONG voltavam como reflexo em espelho. Ele parado na porta, os olhos intensos como farol em noite ruim, e eu dizendo que não ia recuar nem um passo.
Kaleo.
Só pensar no nome me deixava elétrica e cansada, como se meu corpo tivesse corrido uma maratona que eu não treinei para correr. Ao mesmo tempo, eu sentia raiva por deixar que um homem assim atravessasse as minhas defesas.
Era absurdo. Eu tinha coisas reais para fazer, aplicar remédio, treinar um filhote medroso a comer, responder e-mails de doadores, enrolar gaze no tornozelo do Thor. A vida prática é o meu antídoto.
— Terra chamando Layla. — Sarah surgiu na porta com duas canecas — Café ou café?
— Café. — Apoiei o rodo na parede e respirei — Dois.
Ela me passou uma caneca e encostou no batente, estudando meu rosto.
— Dormiu bem essa noite?
— Mais ou menos.
— Esse “mais ou