O amanhecer trouxe consigo um frio inesperado, desses que se infiltram pelas frestas e parecem querer avisar que algo vai acontecer. Isadora caminhou pelas ruas quase vazias, e cada passo ecoava como uma lembrança do que vivera nos últimos dias. A audiência ainda pulsava em sua mente, a imagem de Gabriel tentando manipular até mesmo a neutralidade do juiz, e a frase que ela mesma havia dito: “só quero viver sem ser perseguida.” Aquilo se repetia dentro dela, como se fosse ao mesmo tempo cicatriz e bandeira.
Na livraria, o dia começou com normalidade aparente. Clientes entrando, o sino da porta tocando, o barulho macio das páginas viradas. Mas o ambiente tinha uma tensão silenciosa, um peso no ar que nem os colegas conseguiam disfarçar. Rafael estava mais atento do que nunca, andando pelo salão com o olhar de quem mapeia cada movimento, cada sombra.
Foi no meio da manhã que a notícia chegou. Um envelope grosso, entregue por um motoboy com assinatura exigida. O gerente o abriu na sala d