Isadora acordou antes do despertador improvisado — o barulho da rua — e por alguns segundos não se lembrava do bilhete. O teto simples, a claridade pálida filtrada pela janela, o murmúrio distante da cidade… tudo parecia normal. Então a lembrança cortou como lâmina: “Você pode tentar fugir, mas o passado sempre encontra uma forma de voltar.” Sentou-se na cama de súbito, o coração acelerado. O envelope ainda estava sobre a mesa, dobrado ao meio, como se observasse.
Por impulso, pegou o caderno e escreveu duas linhas rápidas: “Hoje não vou fugir de mim. Vou nomear os medos até que percam a força.” Fechou o caderno, guardou o bilhete na bolsa — não queria deixá-lo ali — e se vestiu. Enquanto amarrava o cabelo, decidiu que não contaria a dona da pensão; não queria criar alarde. Mas precisava falar com alguém. E o rosto de Rafael surgiu, claro, inesperadamente reconfortante.
Na rua, a manhã estava úmida e um vento de canto de quarteirão arrepiava os braços. Em cada vitrine, Isadora via sua