O salto de Helena ecoava pelos corredores da empresa como uma declaração de guerra.
O vestido preto, ajustado ao corpo, era elegante, profissional, mas deixava claro que ela não era mais a sombra tímida que caminhava abaixando os olhos. O batom vinho, o coque bem preso e o perfume marcante completavam a armadura. Estava impecável. Fria. Intocável.
Quando entrou no setor de marketing, os olhares se voltaram. Alguns por espanto, outros por inveja. Ela sorriu discretamente. Ninguém precisava saber o que havia por trás daquela transformação. Ainda não.
Mas alguém percebeu.
Leonardo Alencar.
Do alto da escada de vidro que levava à sala da diretoria, ele parou por um breve instante. O olhar dele percorreu Helena da cabeça aos pés. Não havia desejo visível. Apenas algo mais perigoso: curiosidade.
Helena ergueu os olhos e sustentou o olhar. Por dois segundos longos demais, os dois se encararam. Ela foi a primeira a sorrir — um sorriso contido, mas desafiador.
Leonardo ergueu uma sobrancelha quase imperceptivelmente e seguiu seu caminho.
No almoço, Helena esperou o momento certo. Sabia que ele não almoçava com os outros. Tinha horários alternativos, reuniões silenciosas e uma rotina tão controlada quanto o tom de sua voz. Mas também sabia que ele passaria pelo café do saguão às 13h15. Sozinho.
Ela o esperava, sentada estrategicamente na mesa mais próxima do balcão. Quando ele apareceu, ela levantou-se com a mesma naturalidade de quem esbarra por acaso.
— Sr. Alencar. — disse, com um leve aceno.
— Helena. — Ele parou. A voz dele era baixa, firme, como um comando bem executado.
— Posso te oferecer um café? — ela perguntou, direta.
Ele a olhou de novo. Como se calculasse a intenção por trás da pergunta.
— Isso é uma tentativa de impressionar seu chefe? — perguntou sem rodeios.
Helena sorriu.
— Isso é uma tentativa de chamar a atenção de um homem que não se impressiona com nada. Mas que, talvez, esteja curioso o bastante para aceitar.
Leonardo não respondeu de imediato. Apenas olhou para o relógio, e depois para ela.
— Dez minutos. Me acompanhe.
Eles se sentaram em uma mesa reservada, mais afastada. Ela sentia o coração bater como um tambor, mas por fora estava impecável. Como ele.
— Então, Helena. — Ele começou, entrelaçando os dedos sobre a mesa. — O que exatamente você quer?
— Uma chance. — respondeu. — Não de subir de cargo. Não de ganhar um bônus. Quero uma chance de te mostrar que posso ser útil pra você... além do óbvio.
Ele inclinou levemente a cabeça.
— Isso soa perigosamente ambíguo.
— Só se você quiser interpretar assim. — Helena sorriu. — Eu sou boa com estratégias. E neste momento, estou criando uma. Você pode fazer parte dela... ou pode continuar ignorando o que eu sou capaz de fazer.
Leonardo não sorriu. Mas os olhos dele brilharam por um segundo.
— Você tem três minutos para me convencer de que isso não é apenas um surto emocional.
— Eu fui traída pelo meu noivo com minha irmã. Meus pais sabiam. Me apoiaram? Não. Justificaram. Sabe o que me disseram? Que ela era mais doce. Mais sociável. Mais... adequada.
Leonardo ficou em silêncio.
— Então não. Não é um surto emocional. É uma transição. E toda mulher, depois de ser destruída, só tem duas opções: rastejar ou se reinventar. Eu escolhi a segunda. E não vou fazer isso sozinha.
O silêncio que se seguiu não era desconfortável. Era tenso. Cheio de possibilidades.
Leonardo se levantou devagar, ajeitou o terno e olhou para ela.
— Está contratada para me surpreender, Helena. Não me decepcione.
Ele saiu sem olhar para trás.
Helena permaneceu sentada, com um sorriso satisfeito nos lábios.
O jogo começara. E ela acabara de conquistar sua primeira vitória.