Clarice

— o plano de viver pequena e ver grande, uma estratégia cuidadosamente arquitetada em meio ao caos.

No fim da tarde, o céu de Cayenne permanecia cinza, uma tela sem graça que parecia acompanhar seu estado de espírito, ameaçando a chuva que nunca chegava, como promessas quebradas que flutuavam no ar.

Ela desligou a TV, aquele aparelho que muitas vezes parecia mais uma fonte de ruído do que de informação, e passou um instante ouvindo o som contínuo do ventilador, um zumbido constante que trazia uma ponte entre o acalmar de sua mente e a tensão externa do mundo. Sentia a tranquilidade que clareava sua visão, tão semelhante a alguém que morde uma fruta e esconde o caroço, revelando apenas a casca doce e tentadora, enquanto as sementes amargas permaneciam ocultas.

À sua frente, uma pequena agenda — a dela, não a que o país devorava em ações e reações políticas, mas uma criação íntima que guardava seus segredos mais profundos. Nela, duas colunas bem defini