O apartamento estava silencioso demais. Clarice permanecia de costas para a janela, olhando o céu cinzento e o fiapo de fumaça que escapava do cigarro apagando aos poucos, como se esperasse que ele levasse com ele todas as suas preocupações.
A atmosfera carregada parecia refletir o estado interno dela, onde o desespero se misturava ao amor incondicional de mãe. Atrás dela, Lilibet ajeitava uma bolsa pequena sobre a mesa, colocando cuidadosamente dinheiro, documentos e um celular.
A ordem meticulosa em que arrumava as coisas parecia um reflexo da determinação impiedosa que havia tomado conta dela.
— Aonde pensa que vai? — perguntou a mãe, sem se virar, a voz tingida de preocupação, como se tentasse disfarçar a bagunça emocional que a dominava. Era uma pergunta feita mais por instinto do que por real esperança, mas ela se atreveu a fazer mesmo assim.
— Resolver minha vida — respondeu a filha, seca, como se as palavras fossem uma lâmina que cortava