Capítulo 8

O sol de Al-Qadar se punha num tom escarlate sobre as dunas douradas quando Zayn encerrou a última reunião do dia. Sentado à cabeceira de uma mesa oval de mármore branco, cercado por seus executivos, ele impôs silêncio com um simples olhar. A sala se esvaziou em minutos, restando apenas Kareem, seu fiel secretário.

— A viagem está confirmada. O jato estará pronto às duas da manhã. O embaixador brasileiro já organizou todos os detalhes. — Kareem falou com exatidão.

Zayn apenas assentiu, os olhos negros cravados no horizonte do deserto, como se a imensidão das areias pudesse prever o que o esperava do outro lado do mundo. Ele se levantou com elegância, a postura impecável de um homem que nascera para comandar. Vestia um terno sob medida em azul noite, e os abotoados de ouro em suas aberturas refletiam o último raio de luz do dia.

Mais tarde, em seu palácio, ao caminhar por entre colunas de alabastro e cortinas de linho, ele tirou o paletó e desabotoou os punhos da camisa. Os servos preparavam seu banho com água morna e óleos especiados. Não havia agitação em sua rotina, apenas perfeição.

Kareem o aguardava à porta.

— Deseja ser acordado com quanto tempo de antecedência?

— Quinze minutos bastam.

E assim foi. Ainda escuro, Zayn embarcou em seu jatinho particular, silencioso como a noite. Ao lado, Kareem revia arquivos no tablet. Zayn folheava mentalmente os eventos da semana: reuniões com investidores, participação em painéis econômicos, entrevistas diplomáticas. Nada fora do comum. Nada que exigisse dele mais que frieza, estratégia e presença.

— Como está o clima em São Paulo? — ele perguntou, sem erguer os olhos.

— Chuva leve ao amanhecer. Mas não deve interferir na recepção.

Zayn apenas inclinou a cabeça, voltando a fechar os olhos. Não dormia, apenas recuava dentro de si.

Quando a aeronave aterrissou no aeroporto militar de São Paulo, o dia ainda amanhecia. O ar estava úmido, denso com o cheiro típico de cidade tropical. As luzes da pista formavam uma linha de fogo sob seus sapatos de couro italiano enquanto descia os degraus da escada, ladeado por Kareem.

A comitiva o aguardava. Homens de terno, mulheres bem vestidas. O embaixador de Al-Qadar e o brasileiro se aproximaram primeiro. Cordialidade. Saudações em árabe e português. A voz dele cortava o ar como um comando sutil.

Mas nada o preparou para ela.

Isabela Vasquez.

Foi apresentada pelo embaixador brasileiro com um gesto elegante. Vestia um vestido azul de caimento etéreo, o cinto dourado com o símbolo de Al-Qadar bordado à altura da cintura o fez parar por um segundo. Os olhos dela eram castanhos, atentos, e sua postura tinha algo de ingênuo e profissional ao mesmo tempo.

Ele a observou em silêncio. Seus olhos demoraram no rosto de Isabela, depois desceram sutilmente pelo pescoço, parando no símbolo bordado à cintura. Um gesto imperceptível, mas denso de significado. Então murmurou em árabe:

— Mandaram uma mulher? Achei que ao menos falariam a minha língua.

Antes que Kareem pudesse rir, a resposta veio da própria Isabela. Em árabe perfeito, firme e doce:

— Sim, senhor. Sou uma mulher. E falo sua língua.

O silêncio que se seguiu não foi incômodo, foi hipnótico. Zayn estreitou os olhos. "Sim, senhor." Duas palavras que, na boca dela, ganhavam um peso perigoso.

— Veremos se é verdade. — disse ele, com frieza disfarçada de interesse, passando por ela tão próximo que o perfume de jasmim ficou gravado em sua memória.

Atrás, Lorena observava tudo com um meio sorriso que escondia malícia e ciúmes. Ela não esperava concorrência. Muito menos desse tipo.

Zayn caminhou até o carro que o levaria à embaixada. A cidade despertava ao redor, mas algo dentro dele já estava em alerta.

Na embaixada, Isabela guiava a comitiva com precisão. Apresentava os setores com polidez, traduzia com firmeza. Zayn a observava com a atenção de quem lê entrelinhas. Ela era controlada, mas seus olhos denunciavam emoção reprimida. Havia algo de raro ali — uma entrega involuntária à ordem.

Num dos corredores, ela se dirigiu a ele:

— Deseja conhecer os setores agora ou mais tarde, senhor? — disse em árabe.

Zayn demorou a responder, percorrendo com o olhar a linha do pescoço dela, o detalhe do cinto bordado, os olhos castanhos que não recuavam.

— Faça como achar melhor, senhorita Vasquez. — respondeu com a voz baixa. — Parece saber comandar suas próprias decisões.

— Minha prioridade é cumprir sua agenda da melhor forma possível senhor.

Ele sorriu de leve, sem mostrar dentes.

— Isso é louvável.

Durante a apresentação, Lorena reapareceu com um vestido justo e vermelho. Aproximou-se com segurança, sorrindo.

— Senhor Sheik Zayn, espero que esteja sendo bem recebido — disse em português.

Isabela traduziu, e Lorena aproveitou para continuar:

— Se precisar de algo fora da agenda, posso ajudar. Mesmo que não esteja no cronograma.

Zayn a encarou com tédio elegante, depois olhou para Isabela.

— Traduzo, senhor?

— Não é necessário. — respondeu, e virou-se, encerrando o assunto com uma simplicidade devastadora.

Lorena recuou.

Mais tarde, Isabela conduziu-o à ala privativa.

— Este é seu quarto, senhor. Posso avisar à equipe para o jantar quando desejar.

— E seu alojamento?

Ela hesitou por um segundo estranhando sua pergunta.

— Ala C, segundo andar. Quarto para funcionários temporários.

Zayn assentiu, memorizando a informação.

— Por ora, quero ver o salão de jantar.

Ela conduziu-o, e ele a seguiu em silêncio. O olhar atento à postura, aos passos contidos, ao perfume que se misturava à suavidade do ambiente tropical.

No salão de jantar, os convidados o aguardavam. Luzes baixas, música suave, especiarias brasileiras no ar. Mas Zayn só tinha olhos para ela. Traduzia as falas com precisão, sua voz entrando sob a pele.

Ele pediu que ela se sentasse à sua esquerda. Ninguém questionou. Os olhares se cruzaram — e ela obedeceu.

Durante o jantar:

— Seu árabe é perfeito. — comentou ele, em tom baixo.

— Treinamento e necessidade, senhor. Nada além disso.

Mas ele sabia. Aquilo era além de necessidade. Era instinto.

Ela não sabia.

Mas era dele.

E tudo começava ali.

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