Os dias que seguiram o almoço foram uma mistura de tormento e desejo para João. As recomendações médicas ainda ecoavam em sua cabeça, mas agora pareciam apenas sussurros distantes de um cuidado que ele já não tinha força para seguir. Máscara? Álcool em gel? Isolamento? Tudo isso era nada perto da necessidade de viver, de sentir, de tocar aquela mulher novamente. Alicia.

Ele olhava para o celular sobre a mesa, a tela acesa com as notificações acumuladas. Mensagens de amigos, do médico, lembretes de consultas que ele vinha adiando. O próprio corpo já começava a dar sinais da fraqueza, mas João simplesmente não ligava mais.

"Eu sobrevivi a uma pandemia... pra quê? Pra viver trancado enquanto ela se casa com o meu filho?", pensava, servindo mais um copo de uísque. O álcool já nem ardia mais na garganta, apenas preenchia o vazio, anestesiava o peito.

Na sala ampla do apartamento, a TV ligada em algum jornal que ele não prestava atenção. A cidade se movia lá fora, indiferente ao caos que el