O casamento estava por um fio. Alicia tentava se agarrar a qualquer vestígio de sanidade, mas a cada dia era mais difícil sustentar aquela mentira. Não era só culpa, era angústia, era sufoco. Ela não conseguia mais olhar Roberto nos olhos sem sentir uma punhalada no peito.
E foi por isso que, uma manhã, depois de mais uma noite mal dormida e de mais uma tentativa fracassada de fazer amor fingindo estar inteira ali, Alicia tomou a decisão.
— Preciso de um tempo. — disse baixinho, enquanto separava algumas roupas numa bolsa. — Uns dias fora… pra pensar… colocar a cabeça no lugar.
Roberto se sentou à beira da cama, o corpo curvado, as mãos unidas entre os joelhos. Seu olhar era um poço fundo de confusão e tristeza.
— Pra pensar no quê, Alicia? — Ele perguntou quase num sussurro. — A gente acabou de casar.
Ela respirou fundo, sem coragem de encará-lo diretamente.
— No trabalho, na vida… em tudo. Preciso respirar. Vai ser rápido.
Ele não insistiu. Não brigou. Apenas assentiu devaga