O jantar seguia animado, música ambiente preenchendo o apartamento, taças tilintando, conversas paralelas. Mas Alicia não escutava nada. Estava atenta a outra frequência, uma vibração quase invisível entre ela e João. Um olhar mais prolongado. Um desvio rápido quando alguém percebia. E sempre aquele arrepio subindo pela espinha.
Foi quando a tragédia pequena, mas perfeita, aconteceu: o vinho.
Na tentativa de pegar um guardanapo, uma das convidadas esbarrou no braço de Alicia e a taça virou direto sobre seu vestido claro, manchando-o com um vermelho intenso.
— Ai, meu Deus! — ela soltou num reflexo, tentando disfarçar o constrangimento. — Preciso trocar isso, senão vai fixar.
— Vai lá, amiga. — Juliana disse, passando o braço pelas costas dela. — Quer ajuda?
— Não, tranquilo. Eu troco rápido. — Alicia respondeu, desviando o olhar, quase aliviada por ter um pretexto para se afastar daquela tensão toda.
Seguiu apressada pelo corredor, o som abafado da festa atrás de si, o coração b