No presente…
Mayara Quando acordei essa manhã e saí de casa, imaginei que seria mais um dia como todos os outros. Seguindo a rotina apressada, não imaginei o rumo dos acontecimentos. Agora, estou arrependida de estar aqui. Se eu soubesse, não teria levantado da cama. Deveria ter ficado em casa, ou melhor, deveria estar longe dessa cidade. Mas seria possível mudar tudo agora? Ou melhor, seria justo eu fazer isso sendo que não fiz nada de errado? Assombrada, olho para ele mais uma vez. Não pode ser. Não é possível ser verdade. Estou presa em um sonho? Pesadelo? Ou, estou tendo visões fantasiosas mesmo acordada? Fecho os olhos e chacoalho a cabeça tentando dissipar a visão, mas a imagem do homem a uma distância não se dissipa. Ele está de volta. Anos depois de ir embora e me deixar aqui, ele está de volta. Mesmo sem controlar meus pensamentos, volto para quando o conheci. Éramos jovens demais, adolescentes imaturos, estudantes sonhadores e extremamente apaixonados. Na época, eu acreditava que íamos viver uma linda história de amor. Realizar cada um dos sonhos que traçamos juntos, formar uma família, envelhecer um ao lado do outro. Mesmo em meio aos problemas e por sermos de mundos diferentes, eu acreditava que conseguiríamos passar por tudo isso. Por cada amargura da sua família, por cada apontamento, mentira e xingamento que vinha da elite em que ele estava inserido contra nosso relacionamento. Mas eu estava enganada. Após uma briga, ele foi embora e eu fiquei. Ele foi viver sua vida longe enquanto eu tive que pegar os meus cacos e dar o meu melhor porque não tinha outra possibilidade. Não imaginava revê-lo, muito menos me sentir tão afetada em sua presença. Mas, quando o vejo parado em um ambiente que costuma ser um dos meus preferidos nessa pequena cidade, meu coração quebrado reabre cada uma das suas antigas feridas e sangra com ainda mais força. Vergonha. Saudade. Raiva. Dor. Confusão. Ressentimento. Sempre sinto parte de tudo isso quando olho para o nosso filho e percebo as semelhanças entre os dois. O mesmo olhar doce, o tom dos cabelos e os traços bonitos. A mesma esperteza e leveza, o mesmo coração bondoso. Toda vez que o pequeno fruto do que vivemos me mostra parte da sua inocência, sorrio com tristeza ao lembrar do seu pai. A cada vez que o pequeno me abraça e me diz palavras bonitas e encorajadoras, tenho vontade de chorar de tanto amor. A sua pouca idade parece desproporcional com a inteligência e bagagem. Recordo do meu primeiro e único amor em cada detalhe e vivência, mesmo com vergonha de admitir em voz alta. Não consigo entender como chegamos a nos perder, mesmo acreditando tanto em nosso sentimento tão genuíno. Mas aconteceu. Nos perdemos, nos afastamos e tudo acabou. Agora ele está de volta e desta vez, esse turbilhão me invade de forma ainda mais intensa com o retorno dele. E, para ser sincera, o que mais me machuca é ele estar de volta e eu não ser o motivo.