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CAPÍTULO 4 – A PORTA ENTREABERTA

A manhã seguinte começou com o cheiro de café vindo da cozinha e um fio de luz dourada atravessando as enormes janelas da mansão. Lia acordou antes do despertador, como se o corpo já entendesse que aquele emprego não permitia atrasos. Tomou banho rápido, prendeu o cabelo e desceu as escadas devagar, tentando se acostumar com a sensação de estar num lugar tão grande que parecia respirar por conta própria.

Charles estava na cozinha, impecável como sempre, passando instruções para a equipe.

— Bom dia, senhorita Ramos — ele disse, sem tirar os olhos da lista que segurava. — Aria está acordando. O senhor Hale pediu que você a acompanhe no café da manhã.

O senhor Hale.

O nome fazia algo acontecer dentro dela. Não deveria. Mas fazia.

Lia subiu para o quarto da menina. Aria estava sentada na cama, abraçando um travesseiro, os cabelos bagunçados e o olhar curioso. Quando viu Lia, um micro sorriso apareceu, tímido, mas real.

— Bom dia, pequena — Lia disse, sentando ao lado dela. — Vamos começar o dia?

Aria estendeu os braços. Lia a pegou no colo, sentindo a leveza daquele corpinho que parecia carregar mais do que qualquer criança deveria. Descendo as escadas com ela, Lia cantou baixinho uma melodia simples. A mesma do dia anterior.

Aria encostou a cabeça em seu ombro, confiante.

E Lia percebeu, com um aperto no peito, que aquela menina já estava entrando no lugar certo dentro dela.

O café da manhã estava servido numa sala menor, mais aconchegante que o salão da noite anterior. A mesa era arrumada com perfeição quase exagerada. Lia colocou Aria na cadeirinha e ajeitou o guardanapo dela.

Dominic entrou poucos segundos depois.

Dessa vez, sem jaqueta. Sem formalidade. Só camisa branca dobrada nos antebraços, e aquele ar de homem que não precisa levantar a voz para ser ouvido.

Lia sentiu o impacto da presença dele antes mesmo de ele falar.

— Bom dia — ele disse.

Não era apenas um cumprimento. Era um olhar que prendia.

— Bom dia — Lia respondeu, tentando manter a postura.

Dominic sentou à cabeceira, observando Aria e depois… ela. Lia fingiu ocupar-se com o suco da menina, mas sentia o foco dele como calor na pele.

— Ela dormiu bem? — ele perguntou.

— Dormiu — Lia respondeu. — E acordou tranquila.

Ele assentiu.

Os olhos dele ficaram nela por tempo demais. Lia desviou primeiro.

Depois do café, Lia levou Aria para brincar no jardim da mansão. A menina adorou o balanço, a grama, o sol. Era como ver uma flor abrir aos poucos. Cada gesto, cada olhar, era uma pequena vitória.

— Muito bem, Aria — Lia disse, segurando as mãos dela enquanto a balançava. — Hoje você está cheia de coragem, hein?

A porta da varanda se abriu.

Dominic observava as duas.

Ele não interferiu. Não chamou. Não se aproximou.

Só ficou ali, silencioso, como se aquele momento fosse precioso demais para interromper.

Quando Aria finalmente cansou e pediu colo com um gesto tímido, Lia a pegou. A menina enterrou o rosto no pescoço dela, confiante, como se aquele fosse o lugar mais seguro do mundo.

Dominic viu.

E por um instante — apenas um — o olhar dele amoleceu.

Mais tarde, já dentro da casa, Lia arrumava alguns brinquedos no corredor quando percebeu uma porta entreaberta. Era um escritório menor, iluminado por uma luz quente. Ali dentro, havia algo diferente. Quadros no chão, apoiados na parede. Um violão encostado no canto. Papéis com anotações à mão.

Era o único lugar da mansão que não parecia… perfeito demais.

Um lugar que vivia.

Lia hesitou, mas a curiosidade venceu. Empurrou a porta só um pouco mais.

— Não deveria entrar aí.

A voz atrás dela tinha firmeza e calor ao mesmo tempo.

Lia sentiu o coração bater acelerado quando se virou.

Dominic estava encostado no batente, braços cruzados, observando-a com olhos que pareciam enxergar além da superfície.

— Eu… desculpe — ela disse, ajeitando uma mecha atrás da orelha. — A porta estava aberta. Não sabia que era privado.

— É — ele respondeu, dando um passo para dentro. — Mas não estou incomodado. Só queria saber o que chamou sua atenção.

Lia olhou para o violão.

Depois para os quadros.

Depois para ele.

— Este parece ser o único lugar da casa que tem alma.

Dominic parou.

Como se as palavras dela tivessem acertado algo que ninguém tocava há tempo demais.

— Talvez seja — ele disse, baixo. — Não deixo muitas pessoas entrarem aqui.

Lia sentiu o peso da frase.

O significado escondido nela.

— Então… posso sair.

— Ou pode ficar — Dominic disse.

O silêncio que se seguiu não era desconfortável.

Era denso. Quente. Carregado de perguntas que nenhum dos dois ousava pronunciar.

Lia deu um passo para trás, consciente demais da proximidade deles.

— Eu… preciso voltar para Aria.

— Claro — Dominic murmurou, mas os olhos dele diziam outra coisa. Algo como: não termine essa conversa assim.

Lia saiu primeiro.

Mas, enquanto caminhava pelo corredor, sentiu o olhar dele em suas costas.

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