A rotina da casa começou a se rearranjar sem que ninguém precisasse anunciar nada. Era como se cada um soubesse, instintivamente, onde pisar, quando falar, quando apenas observar. O silêncio continuava presente, mas agora tinha outro peso. Era um silêncio confortável, que não apertava o peito.
Aria acordava mais cedo. Às vezes chamava por Lia, às vezes por Dominic. E, em dias raros e preciosos, chamava pelos dois.
— Lia… papai…
As palavras ainda saíam com esforço, mas vinham carregadas de intenção. E isso mudava tudo.
Lia passou a levá-la para o jardim todas as manhãs. Aria gostava de tocar as folhas, de se agachar perto das flores, de observar os insetos com curiosidade silenciosa. O jardineiro, antes ignorado, agora recebia olhares atentos e, de vez em quando, um aceno tímido.
— Bom dia — ele dizia, sempre baixo, respeitoso.
Aria não respondia com palavras. Mas não se escondia mais.
Dominic assistia a tudo de longe, muitas vezes fingindo atender chamadas no celular, mas com o olhar