O dia amanheceu com o céu nublado e o cheiro de terra molhada no ar. Eveline, deitada entre os lençóis quentes da cama de casal, olhava o teto enquanto o corpo ainda sentia os efeitos da última noite — onde Marcus, mais uma vez, havia sido intenso, porém surpreendentemente doce. Desde a noite da lareira e da declaração inesperada de amor, algo parecia ter mudado entre eles.Naquela manhã, ao sentar-se à mesa para o café, Eveline tomou coragem:— Queria ir até a cidade, conhecer um pouco mais. Talvez comprar algumas flores para o jardim… e uns livros novos. — disse, olhando para Marcus por cima da xícara de chá.Ele hesitou. A cidade, mesmo pequena, era cheia de olhares. E sua máscara ainda cobria parte do rosto. Mas ao ver os olhos dourados de Eveline, cheios de expectativa, ele assentiu com um leve suspiro.— Tudo bem. Vamos hoje à tarde.O carro deslizava pelas estradinhas de terra. Marcus, de camisa azul escura, as mangas dobradas até os cotovelos, dirigia em silêncio. Eveline, de v
A ida à cidade foi um pequeno passo para Marcus — e um grande salto para o homem que por tanto tempo viveu recluso. Atendeu ao pedido de Eveline mesmo com o incômodo constante de sair com sua máscara. Caminhar pelas ruas estreitas da cidadezinha, sentir olhares curiosos sobre si... ainda era difícil. Mas ao lado dela, tudo parecia um pouco mais fácil.Eveline sorria ao seu lado como se o mundo fosse um lugar seguro e bonito de se estar. Em uma floricultura charmosa, Marcus comprou um buquê de lírios brancos. Ela adorava flores. Nunca tinha ganhado nenhuma.— São lindas — disse ela, surpresa, segurando as pétalas como se fossem tesouros.Ele apenas assentiu, com um sorriso quase tímido, mas carregado de orgulho. Era como se dar flores à mulher que amava fosse um gesto mais íntimo do que qualquer outro.Na volta para o carro, o salto de Eveline vacilou ao descer uma calçada novamente. Um gemido escapou de seus lábios e ela quase caiu.— Ai... meu tornozelo!Marcus agiu sem pensar. A peg
O aroma das flores recém-colhidas ainda pairava no quarto, como se o tempo tivesse parado ali, congelado na fragilidade daquele instante. O sol da tarde atravessava as cortinas esvoaçantes, tingindo tudo com um dourado suave, quase onírico. Eveline repousava na cama, o tornozelo cuidadosamente enfaixado após a visita atenciosa do médico. Cada gesto havia sido meticulosamente executado por Marcus, que não saíra de seu lado em momento algum. Ele a observava com uma devoção silenciosa, olhos carregados de um cuidado que ela jamais havia visto nele antes.Era como se outro homem houvesse nascido ali, ao lado da cama. O mesmo Marcus que antes parecia distante, quase alheio às delicadezas da vida cotidiana, agora se mostrava gentil, solícito, quase amoroso. O olhar que lançava a ela tinha mudado: não era mais de simples preocupação, mas de algo mais profundo. Como se, de repente, ela fosse o eixo do mundo dele, o centro de um novo universo.Eveline, no entanto, sentia-se estranha — e não ape
A manhã nasceu preguiçosa, envolta em névoa suave sobre os campos da fazenda Castelão. O sol ainda mal havia rompido o céu quando Eveline ouviu batidas gentis na porta do quarto.— Pode entrar — disse, puxando o robe sobre a camisola fina.Maria, a governanta, entrou com sua calma habitual, equilibrando uma bandeja de prata com uma xícara de chá quente e um pequeno bilhete nas mãos.— Trouxe seu chá, minha flor... e um recado do patrão.Eveline arqueou uma sobrancelha, aceitando a xícara.— O que foi agora?— Ele pediu que você se arrume com carinho — disse Maria com um leve sorriso. — Os pais dele estão chegando hoje. Vão vir aqui na casa para conhecer você e parabenizar pela gravidez.Eveline congelou por um instante.— Hoje?Maria assentiu.— Até então, eles respeitaram o pedido do Marcus. Ele quis um tempo. Queria ver se esse casamento arranjado, como foi, realmente daria certo antes de envolver mais gente. Mas com a notícia do bebê... bom, agora não se aguentaram.Eveline respiro
A sala principal da casa de fazenda estava mais silenciosa do que o habitual. A bandeja do café havia sido recolhida por Maria, que sumiu discretamente para deixar o momento em família fluir. Eveline sentava-se ao lado de Marcus, os dedos entrelaçados no próprio colo. Seu coração batia um pouco mais rápido, e não era pela gravidez.Helena ajeitou o vestido com elegância antes de começar a falar, os olhos brilhando de expectativa.— Queremos convidar vocês dois para morar conosco, na mansão da capital — disse, olhando especialmente para a nora. — Agora que esse bebê está a caminho, queremos estar por perto. Eveline vai precisar de cuidados, apoio… e eu quero acompanhar cada detalhe desse momento tão importante.Eduardo, como sempre, foi direto:— E, Marcus, está mais do que na hora de você reassumir seu lugar nos negócios da família por completo, não só os negócios da fazenda. Estou ficando velho, e você sabe que a administração precisa de alguém firme. O escritório está montado, pront
O cheiro de café fresco preenchia o ambiente quando Helena desceu pela escada principal com os cabelos presos em um coque elegante e um sorriso já desenhado nos lábios. Eduardo a aguardava na sala de jantar, vestindo roupas leves, com o jornal dobrado ao lado da xícara.— Bom dia, minha querida — ele disse, levantando-se para beijá-la no rosto.— Dormiu bem? — ela perguntou, puxando uma cadeira.— Surpreendentemente bem. Esse ar da fazenda faz milagres.Maria surgiu com uma bandeja recheada de frutas, queijos e pães quentinhos.— Os patrões ainda não desceram? — perguntou Helena, lançando um olhar para o topo da escada.Maria disfarçou o sorriso ao servir o café.— Ainda não. Devem estar... descansando.Helena lançou um olhar rápido ao marido, que apenas riu com a sobrancelha arqueada.— Acho que o descanso deles está rendendo bastante, não é? — comentou Eduardo, divertido.— Acho lindo. Marcus sempre foi tão fechado. Ver ele assim, com a esposa... é como se eu finalmente tivesse meu
A manhã amanheceu preguiçosa, iluminando o quarto com uma luz dourada suave. As cortinas balançavam com o vento leve, e o aroma de terra úmida invadia o ar. No centro da cama, enroscados entre lençóis amassados, Marcus e Eveline despertavam lentamente — os corpos ainda colados pela noite de prazer que haviam vivido.Eveline estava deitada sobre o peito nu do marido, os cabelos negros espalhados como seda, a perna entrelaçada na dele.— Ainda quer levantar? — murmurou Marcus, a voz rouca da manhã e cheia de desejo.— Não. Quero ficar aqui... sendo sua.Marcus sorriu e passou a mão pelas costas nuas da esposa. Em silêncio, a virou devagar, posicionando-se entre suas pernas. Os olhos verdes ardiam com a fome que ela tão bem conhecia.O beijo foi quente, demorado, e logo os corpos se encontravam mais uma vez. A penetração foi profunda, lenta, repleta de um desejo cru e ao mesmo tempo cheio de carinho. Ela o recebia com gemidos abafados, o quadril ondulando sob ele, os dedos cravando em su
O céu já estava pintado com tons de ouro e lilás quando Marcus soltou um longo suspiro, ainda de mãos entrelaçadas com Eveline. A tarde havia sido perfeita — o nascimento do bezerro, o café no alpendre, o silêncio compartilhado com amor.Mas agora, no cair da noite, ele queria que ela soubesse tudo.— Eveline… antes de qualquer coisa, eu quero que você saiba que eu te amo. E que você mudou minha vida de um jeito que eu nunca achei que fosse possível.Ela apertou sua mão com carinho, o olhar sereno.— Eu também te amo, Marcus.— Mas... antes de você, existiu um momento muito escuro na minha vida. E eu acho que você tem o direito de conhecer essa parte de mim. Não porque ela ainda tenha poder sobre mim. Mas porque, de certa forma, foi essa dor que me trouxe até aqui. Até você.Ela permaneceu em silêncio, atenta. Sabia que estava prestes a ouvir algo importante.— Eu nunca te falei isso. Queria ser eu mesmo quem te contasse. Eu percebi que minha mãe comentou, de leve, quando esteve aqui.