Nicolo Moretti
O sol do Cairo já era um velho conhecido, um soberano rigoroso que governava os céus há vários dias. E, de alguma forma, ele parecia iluminar uma realidade diferente daquela que eu carregara da Itália.
Há alguns dias, nesta terra ancestral, algo começou a se desfazer dentro de mim. A dor lancinante pela morte de Mário, uma ferida que eu julgava que seria eterna, começava a cicatrizar nas bordas, transformando-se numa saudade pesada, mas suportável.
O susto, o resquício pela proposta de Caterino que ofereceu a sua filha Paula em um casamento para que não houvesse um derramamento de sangue, estava dissipando-se como a neblina matinal sob o calor do deserto.
Paula era o epicentro dessa transformação. Ela estava a cada dia mais leve, como um pássaro que descobria a amplitude do céu após uma vida numa gaiola. Seu encanto com tudo ao redor, os mercados caóticos, as pirâmides silenciosas, o Nilo serpenteante, era contagioso.
E, de uma forma que me pegou de surpresa, ela estava