Paula Moretti
Era somente um sonho.
Mesmo que fosse uma imaginação febril construída pelos desejos mais secretos do meu coração depois da nossa tarde entrelaçada. Um delírio que a luz cinzenta do amanhecer agora dissolvia sem piedade. Viro na cama e o movimento é suficiente para remover o ar, trazendo até mim o perfume de Nicolo.
Era o cheiro dele, sim, mas também era o nosso: o suor do sexo, a pele quente, a respiração ofegante misturada. O aroma estava impregnado nos lençóis, no travesseiro, no próprio ar que eu respirava, um fantasma tátil daquilo que acontecera. Um lembrete intoxicante de uma proximidade que, agora, de dia, parecia uma farsa.
Um suspiro profundo escapa dos meus lábios. Preciso sair daqui.
Preciso de um quarto onde eu não consiga vê-lo, mesmo que ele não esteja presente. Onde o eco dos meus próprios desejos não seja tão alto. O sonho dessa noite, onde eu imaginava que ele teria a delicadeza de dormir ao meu lado depois do que houve, era a prova mais concreta do abis