Paula Moretti
Escolho um vestido preto, simples e elegante, o mais apropriado para um velório. O tecido escorre sobre a minha pele ainda úmida, um manto de luto por um homem que eu devia amar e ser amada. Mas cuja morte agora se entrelaçava com a vida do pai que me aceitou como sua esposa.
Estava ainda me arrumando, tentando domar o cabelo ainda úmido, quando o som da porta do quarto sendo aberta me faz gelar por completo.
Em um piscar de olhos, ele está parado no batente da porta, olhando em minha direção.
Seus olhos, da cor de uma tempestade no mar, encontram os meus. Eles percorrem meu corpo, do vestido preto ao meu cabelo solto, e eu vejo algo neles que não estava lá ontem. O ódio puro, a fúria cega, parecia ter dado lugar a algo mais complexo. Havia uma névoa de dúvida, uma hesitação que tornava seu olhar mais pesado e mais humano.
Ele parecia cansado, os sulcos ao redor de sua boca mais profundos, alguns fios grisalhos em sua barba escura captando a luz.
— Imagino que Mário terá