Paula Moretti
Algo no tom de Nicolo e em seu olhar me incomodou profundamente.
Não era apenas a raiva crua e visceral pela morte de Mário, um sentimento que eu, de certa forma, conseguia entender, mesmo não compartilhando da culpa que ele me atribuía.
Havia uma camada por baixo, uma tormenta mais antiga e complexa. Era como se ele estivesse lutando contra demônios que eu nem conhecia, uma desavença com meu pai que ia além de uma simples disputa territorial.
Um ódio tão profundo que nunca fora nomeado em nossa mesa de jantar, somente pressentido como um veneno no ar que era injetado pelos dois lados da família. O que ainda me surpreende é que ambos aceitaram esse casamento.
Não consegui suportar o peso daquelas palavras finais. A frieza com que ele delineou nosso futuro…
Quartos separados, anticoncepcionais forçados, a promessa de que eu nunca “esquentaria sua cama”.
Tenho certeza de que ele nunca seria leal a mim, enquanto eu, por educação, por honra, e talvez por uma teimosia interna,