Nicolo Moretti
Deixei a comida intocada…
Sentia o sabor da derrota ou seria de uma vitória ilusória?
O dessabor amargo estava em minha boca. A imagem de Paula subindo aquela escada, desafiando a dor e a minha autoridade, queimava em meus olhos. Ela se refugiaria no quarto que eu havia profanado ao tocá-la, transformando-o em seu território e exclusivo dela. A audácia era exasperante.
Caminhei até o lado oposto da sala, onde o maldito piano de cauda ocupava um espaço desproporcional, um elefante branco envernizado do qual eu nunca tive coragem de me desfazer. Era um relicário de um passado que doía mais do que qualquer bala.
Abri o armário do bar e peguei uma garrafa de uísque escocês de single malt. Caríssimo, enchi um copo baixo até a borda. Não sou um homem que se entrega à bebida; a embriaguez é uma fraqueza que um Don não pode permitir. Mas hoje, uma confusão de sentimentos que eu não conseguia nomear ou controlar fervilhava dentro de mim, e eu precisava de algo para afogá-los.
Vi