POV KAEL.
A sala estava silenciosa.
O tipo de silêncio que só a indecisão trás.
Eu estava ali havia horas, sem conseguir me concentrar em mais nada. As luzes da cidade piscavam através das janelas amplas do escritório — uma pintura distante, fria.
Vitória entrou sem bater. Como sempre fazia.
Tinha o andar confiante de quem acreditava pertencer a qualquer lugar que pisasse.
Carregava um copo de vinho, equilibrando-o entre os dedos, e me olhou com um meio sorriso.
— Você está se matando aí dentro. — disse, encostando-se à parede. — Achei que o herdeiro da Tecnocare tivesse momentos de folga, de descanso.
— Herdeiros não descansam.— murmurei. — Só esperam a próxima guerra.
Ela deu uma risada curta, aproximando-se.
— E dessa vez, vai ser qual? A dos clãs ou a do seu próprio coração?
Suspirei, recostando-me na cadeira.
Vitória era bela, e ela sabia disso.
Sabia também o poder que tinha sobre mim, ou o que achava que tinha.
— Você já se perguntou, Vitória… — comecei, girando o copo vazio