— Amor, assim, como pensa em entrar em Monterrey? - Dario se interessava. — Silenciosa. - Ela sorriu para o alto. - Ainda sou boa com algumas coisas fora da vida militar. Cozinheiras, boleiras, cabeleireira, barbeiro, tem profissões que são universalmente preenchidas de gente invisível. É uma ação longa, não nego, mas tempo significa redução de riscos. Eu ainda sou um fantasma. - Ela suspirou. - Sabe? De repente, eu me vi livre, de verdade. Sem rumo. Não tinha ordens, nem contas, nem metas, nem identidade, sem propósito, sem destino. - Ela se expunha aos ossos. - Até ser atacada pelos "meus". - Ela gesticulou as aspas, ironizando a situação. - Não entendo o que me torna tão peculiar a ponto de ser um risco. Eu só.... - Ela se acanhava. - Eu só queria morrer, mas não assim, não como morri, ficando desamparada. — O que a machucou tanto ao ponto de a morte ser uma opção viável, meu coração? - Ele se virava para ela. Era difícil entender como uma pessoa tão vigorosa e intensa consider
— Estrategicamente falando? - Dario ponderou, segurando a toalha diante do corpo. O olhar faminto de Helena o intimidava. "Não era tão fogosa." Ele pensou, tentando manter a postura de confiança. — Pode ser. - Ela respondeu, cobrindo o rosto com as mãos, percebia Dario desconfortável. — Subúrbio. Se estou livre e vivo, isso indica que sou bom em me esconder. - Ele afirmou, Helena reconhecia isso. — Ok. - Ela respondeu, a voz abafada pelas mãos diante do rosto. — Está desconfortável, Maria? - Ele entrava na brincadeira, se forçando, apesar do dilema. Priorizava aquele momento que, eventualmente, poderia não se repetir. Ele a sentia nebulosa, não conseguia decifrar aquela nova mulher. — Não, mas acho que estou fazendo cara de lambisgoia. - Ela riu, divertida. — Fato. - Dario se aproximou dela, pegando a roupa sobre a cama, perto demais. - Só que, se começarmos, nenhum de nós dois come até amanhã cedo. Não é um hotel com serviço de quarto. - Ele informou. Haviam escolhido um
— Coração, qual sua relação com Gregory Stuart? - Dario perguntou, lavando a louça. — Antes ou agora? - Ela perguntou, enxugando os utensílios. — Ambas. Temos tempo para nos reconhecer. - Ele disse, precisava ouvir-la. — Ele foi meu instrutor na academia, era amigo meu e do meu finado esposo. Depois que fiquei viúva, se tornou um grande amigo e apoiador, uma das poucas pessoas que eu podia chamar de família. Sempre cuidou de mim, foi meu médico, meu comandante. - Ela respondeu, tranquila, se esticando na ponta dos pés para guardar algo. — Amantes? - Dario tentava conter os ciúmes. Helena o olhou de canto de olhos, sorria, travessa. — É, tivemos um lance, mas ele se emocionou e eu, bom, preferi ir embora. Estava lá quando levei Scarlet para abortar. - Ela disse, como quem conversa com uma amiga confiável. — Qual a relação? - Dario investigava, ajudando-a. — Filha dele. O pai a quem ela referia que eu não amava era Gregory. - Helena respondeu, saindo debaixo de Dario e ganh
Helena chegou em casa, a sensação de estar sendo seguida a atormentava, mas não encontrava motivos para estar sendo seguida, Gregory não chegaria até ali. Ela tinha seu próprio protocolo para sumir e voltar, o qual nunca contou a ninguém. Dario ouviu a porta se abrir com alegria. Helena chegava, suada. — Tome um banho enquanto sirvo. - Ele ordenou, gentilmente. Helena apenas obedeceu, consentindo com um gesto. Ela voltou pouco tempo depois, a mesa servida, a comida preparada como gostava. Acomodaram-se. - Me desculpa. Fiquei enciumado. - Dario disparou assim que ela levou o primeiro bocado à boca. Helena sempre foi mais fácil de lidar enquanto comia. — Estou ouvindo. - Ela o olhou, mastigando. — Bom, tive notícias que o tal Gregory está procurando você como uma alma no inferno. - Ele suspirou. - Eu fiquei enciumado e não reagi bem. Me perdoe. — Tudo bem. - Ela deu de ombros. Continuando a comer e aquilo estava delicioso. — Só isso? Tudo bem? - Dario se ultrajava. — Você
Cinco da manhã. Dario acordava com Helena saindo da cama e se vestindo para correr. "Impossível. De onde tem tanta energia?" Ele não se conformava, fingia dormir. Ela apenas saiu. O homem do café já parecia estar esperando por ela, ela apenas passou por ele. Já era o terceiro dia, começava a se acostumar com aquela presença pela manhã. Apenas correu, sem dizer nada, sem o repelir. Ele desistiu da corrida com coisa de vinte minutos, deixando-a em paz. Helena seguiu com seu treino, conhecendo o parque, encontrou senhoras praticando um exercício lento e relaxante, orientais. Helena sorriu, se juntando ao grupo que a ignorou, deixando-a ficar. Ela caminhava até em casa. Dario, uma pilha de nervos, ela já estava atrasada e não respondia às chamadas ou às mensagens. — Onde estava? Eu estava morto de preocupação! - Dario disparou, agitado.— Bom dia. - Ela respondeu. - Correndo, me exercitando. Enfim. - Helena passou por ele, seu café já estava servido. - Obrigada por isso. É muito delicad
— Não deseja saber nada sobre mim? - O homem se atrevia a perguntar, a Helena, algo. Avançava sobre a muralha de desinteresse dela. — Senhor, não me leve a mal. - Ela suspirou. - É um homem bonito, atraente certamente, mas preciso do emprego e não posso me dar ao luxo de me envolver com clientes. Meu patrão se sentiria desconfortável e cheguei há pouco na cidade, preciso da misericórdia dele. - Ela baixou o olhar. - Agradeço pelo flerte, mas... - Ela se acanhava. - É um elogio, mas não é apropriado em minha posição. Lamento. - Helena jogava com as informações que tinha. Homens da lei costumavam ter um certo "Complexo de Herói". Se fosse policial, ela ganharia alguém muito importante para sua operação. "Vamos jogar, bebê." Ela pensava, mantendo a expressão humilhada em seu rosto e o sorriso sádico em sua mente.— Ninguém precisa saber, querida. - Ele se interpôs no caminho dela. - Aqui, me ligue quando quiser. - Ele entregou um cartão para ela. "Rafael Cervantes." Havia um número. Ele
Helena se refrescou e avaliava a documentação que Dario a haviam entregue, em uma das imagens, a mão longa e o sinete de pedra negra, a ela, parecia Rafael, pelo porte. Precisava falar com aquele homem, poderia ter ligação com o caso. Ela acabou dormindo debruçada sobre aqueles estudos. Na tela, pesquisava alguém chamado "Rafael Cervantes". Não encontrava nada além de um site comercial. Era um investigador particular. "Será o mesmo Rafael Cervantes?" Dario se perguntava, fechando as telas e a acomodando, exausta, na cama. Naquele ritmo, o corpo não aguentaria muito, ela se levava a extremos. Helena não despertou no horário usual, respirava pesadamente quando o despertador de Dario tocou, ruidosamente. Estava levemente febril. Ele decidiu deixá-la descansar. Preparou algumas vitaminas e um remédio para resfriado na bandeja. Rafael a aguardava no parque, ansioso, mas ela não surgiu. Algo havia acontecido, mas ele apenas deduzia o ritmo dela, não havia uma rotina estabelecida. Sem dar
Rafael entrou pela emergência com Helena nos braços, mal respirava. Os pulmões tomados por algo, foi levada. Rafael aguardava na recepção. Da mulher, sabia apenas o nome e nem era verdadeiro: Maria Dorneles Martins. Uma médica se apresentava a ele, o quadro era de um veterano de guerra: perfurações por munição eram maioria esmagadora, em geral, grosso calibre. Já não tinha um útero ou ovários, o que indicava que poderia ter sido transportada como prostituta. Tirar aquela parte era uma prática comum, especialmente, se fosse escravizada, mas o que mais chamou a atenção da médica é que, placas e pinos tinham números seriais e aquilo batia com números de outra pessoa morta: Tenente Helena Jones Brown, Imigração Estadunidense, Militar de alta parente. Rafael se surpreendia, aquele anjo que lhe serviu café, algumas vezes, era uma das víboras do General, conhecido por aliciar e corromper militares de alto escalão. A raiva o tomava. Se ela estava ali, estava em missão, concluía. Helena despe