A manhã já ia alta quando Helena decidiu sair da cama, estava livre, inclusive, para decidir seu destino. Livre, como jamais esteve antes. Uma nova realidade se desenhava: não haviam expectativas sobre ela, nem cobranças, ou objetivos, não havia superiores e nem subordinados, não tinha filhos, nem responsabilidades financeiras ou pessoais, estava por si e apenas aquilo. Havia um imenso hiato, um vazio existencial de quem, simplesmente, existia e não existia e aquilo era assustador. As refeições não foram servidas, aquele dia, e nem ninguém entrou em seu quarto. Ela, também, não se sentia à vontade para pedir nada e nem dar ordens, não se sentia parte do contexto. Não era alguém, não tinha sequer sua existência documentada mais, era um fantasma, uma sombra de ninguém na escuridão. Um desespero, fluente e profundo, começava a inundar seu coração, exigente, pesado. Para si, era um absoluto desperdício de recursos. Ela havia se afastado de tudo, abandonado todos. Devagar, saiu da cama e
Dario se desesperava, Helena, ainda que armada, estava com uma barra de aço na mão, as sobrancelhas erguidas e parecia contar passos, com um dedo tambolirando, suavemente, o pé-de-cabra em sua mão. Ela maneou a cabeça. Dario contava, mentalmente: um, dois, três. Luiz, ao seu lado, via a mesma tela, descrente. Helena avançou, em um bote. Gregory, sem que houvesse tempo de reação, virou-se para o vulto em seu ponto cego, não teve tempo de se posicionar, sentiu a pesada barra de aço bater contra o braço, forçando-o a soltar o gatilho da arma, em uma dor intensa. Seu atacante havia lhe quebrado um braço. Ele se ajoelhava. — Técnica da Migra? - Dario se perguntava, vendo o absurdo. Helena sorria. Estava se divertindo, para o horror da equipe que pretendia resgatar aquela criatura que mostrava as presas. Helena chacoalhou a barra como um taco de baseball. Gregory percebia seu atacante. "Helena?" Ele arregalou os olhos quando o chute, na cabeça, o fez sentir a tontura. O ouvido zunia, s
Rhodes terminou a corda. Campbell protegia a retaguarda do homem. Abriram a porta e saíram para a varanda. Helena se aproveitava daquele nervosismo, tática, tranquila, de espírito sereno. "Morte ou Sorte? Quem estará de serviço hoje?" Ela sorriu, linda, feliz. Luiz e os outros dois sentiam as entranhas congelarem, especialmente, com o olhar apaixonado de Mictlán. A mulher era uma assassina robustamente treinada, impiedosa. Campbell sentiu o tiro na base do abdômen, ainda que sobrevivesse, tinha sido emasculado, ele caiu de joelhos no chão, com as mãos entre as pernas, a tontura vertiginosa, a dor que lhe cegava. Rhodes, rapidamente, jogou a corda pela sacada, atirando-se para fora, ouviu outros dois disparos. Campbell jazia no chão, um tiro na cabeça, outro, do lado direito do pescoço. O corpo se esvaziava. Sem qualquer honra, Helena cortou o nó do lençol, Rhodes bateu, pesadamente no chão, sentiu o peso da dor, se não estivesse quebrado, havia torcido o pé. Ele viu a garagem, carro
— Eu não preciso voltar, Helena. - Gregory respondeu. - Se você não vai voltar, eu fico. — Não faz isso com a gente, Gregory. - Helena advertia, apoiando o rosto sobre a mão, cobrindo os olhos fechados. - Escuta: Vou mandar você par SUA casa, com a SUA família. - Ela estava irredutível. - Se entrar no meu caminho, mais uma vez, eu vou forçar a Katrina a fazer o inventário para suas filhas. - Ela se levantou. Mesmo com aquelas roupas, era linda. Gregory resmungou e se lamentou. Rhodes despertou. Não quebrou ossos, mas estava bastante machucado. Ele via Helena olhar para Rhodes, séria, parecia bastante irritada. — Você, eu vou torturar se não cantar para mim, bebê. - Helena ameaçou o homem, que despertava em estado de alerta. - Que palhaçada foi essa, Jeferson? — Temos ordens do General. A elite é recrutada para desativar rotas sob o disfarce de missões, garantindo a hegemonia dos negócios para Della Rosa. - Ele resumida. — Há quanto tempo? - Ela pontuou. Gregory parecia confuso,
— Luiz, precisa instruir para irem por esta rota. - Helena instruía o homem, surpreendendo-os com uma inteligência afiada. - É a rota de fuga da imigração, podem estar grampeados. Por aqui. - Ela indicava alternativas. - É por onde seu entregador vai sair. Tem um ponto de coleta aqui. Eu e Mictlán vamos sair assim que seu entregador sair. O cara morto era do comando do General. - Helena o olhou, firme e, depois, Dario. - Este lugar está comprometido. Luiz, com a ajuda de Helena e Dario saiu com seus pacotes. Ela e Dario saíram com o carro branco. Ele a guiou por vários minutos. Helena estava silenciosa, parecia exausta. — Helena... - Dario começou a falar. — Sh! Ainda estou com raiva de você. - Ela o interrompeu. - Muita raiva. - Dario se deteve por um momento. — Ajudaria se eu dissesse que tinha medo de nunca mais ver você? - Ele falou. Precisava dizer. Ela negou, um gesto curto e suave. Dario suspirou, chegando a um cortiço, próximo da ponte internacional. Guardou o carro em
A saudade deles não tinha tradução. Dario não se lembrava de ter ficado tão excitado por qualquer outra mulher. O cheiro de Helena lhe sequestrava a ração. Helena, atada ao corpo dele, se deliciava com o beijo poderoso, mas gentil, que lhe aquecia a pele. Pressionava-se contra ele, afundando-se em um desejo inexplicável. Ele se sentou na cama, Helena o libertava, jogando a camiseta longe, debruçando o peito, em pele, sobre ele. Dario sentia que explodiria a qualquer momento, antes mesmo que ela o tocasse. Gemia sob o comando exigente dela. Ele a sentia beijar seu pescoço, provocava-o, movendo os quadris, obscena, ardente. Seu corpo chamava o corpo dele, autoritário, imponente. Dario a rolou sob si, colocando-a deitada, abaixo de seu peso. Ele se deteve por um instante. Helena estava ruborizada, os lábios carnudos, entreabertos. Tinha o olhar brilhante, lânguida. Encarando-a, hipnotizando a mulher, lhe deslizando a mão sobre a pele, libertando-a da última peça de roupa sobre seu
— Pode me arrumar umas roupas? - Helena pediu, mastigando, como se aquelas últimas palavras não tivessem acontecido, olhando para Dario, que flutuava em algum lugar entre surpresa e desconforto. — Eu não reconheço você. - Dario disse, impressionado. — Mas a gente se divertiu. - Ela ironizou, apontando a colher para ele, em seguida, tirando uma porção do iogurte e levando à boca. - Pode me ajudar ou eu dar uma de louca, tanto faz. - Ele se surpreendia com a acidez dela, era irritante e "Sexy?" Dario se pegava em um turbilhão de emoções, memórias, sentimentos e pensamentos. - Escuta: para com o drama. Me encara como só mais uma que se divertiu por uma noite, sem compromisso. Não precisa tornar isso em u. relacionamento. Agradeço pelas vezes que me salvou e cuidou de mim, mas espero que tenha consciência de que não pedi isso. Fez porque quis. Quando minha identidade ficou clara para você? Se não tivesse me dito, eu jamais ia desconfiar. — Quando invadi seu apartamento e peguei sua
— Por quanto tempo vamos ficar parados? - Dario, nu, ao lado de Helena, perguntava, faminto e fraco depois daquela manhã infernal e deliciosa com ela. — Até amanhã. O protocolo fala em até vinte e quatro horas para a captura do inimigo. Depois, vira investigação, é mais fácil de interceptar. - Ela rolou, afastando-se dele e indo direto para a geladeira. Olhava o que tinham ali. - Certo, é o que temos. - Ela fechou o eletrodoméstico, vestindo a calcinha e a regata, para ele, era a visão do paraíso. — Escuta. Você queria mesmo ser mãe? - Dario disparava a pergunta absolutamente aleatória. Helena se ressentia, visivelmente. — Não era o que queríamos quando éramos casados? - Ela retrucou. Havia algo perigoso na voz dela, estava irritada. — Naquela época, foi. - Dario se sentou, vestindo a cueca e indo até ela. Preparava algo. - Hoje, não sei. Depois que foi embora, nunca mais quis. Percebi que não queria filhos por querer amar alguém e toda aquela coisa sobre família. Eu os queria