Do lado de fora, os colegas de trabalho ouviram tudo e ficaram chocados.

A Srta. Gisele era considerada uma das veteranas da empresa. Desde o início da Mídia Estrela, ela seguia Simão, ajudando-o a fechar inúmeros contratos importantes.

Diziam até que ela era namorada dele, e que o casamento estava próximo.

Nanda, por outro lado, era uma recém-formada, que nem sabia redigir um documento direito. Com que direito ela estava no mesmo nível que a Srta. Gisele? E mais, por que ela deveria tomar o escritório de Gisele?

Os colegas, indignados, torciam secretamente para que Gisele se defendesse. Contudo, para surpresa de todos, ela simplesmente começou a arrumar suas coisas sem protestar.

Ao ver que ela não se curvava às suas provocações, Simão ficou ainda mais irritado e apontou para uma estação de trabalho aberta no espaço comum:

— Você vai trabalhar ali!

Gisele manteve a expressão tranquila, pegou seus documentos e foi para o lugar indicado. Afinal, já havia decidido pedir demissão. Não importava onde fosse trabalhar, pois em breve sairia dali.

Nanda, por dentro, estava radiante de felicidade, mas fingiu estar surpresa. Ela segurou levemente a manga de Simão e perguntou:

— Sr. Simão, o senhor vai mesmo me dar este escritório?

— Sim. — Respondeu ele com firmeza, embora sua atenção estivesse constantemente voltada para os movimentos de Gisele na área comum.

Nanda, empolgada, apontou para os móveis em tons de cinza claro:

— Sr. Simão, não gosto dessa decoração. É muito antiquada. Posso mudar para algo rosa?

— Claro. Agora é seu, você pode fazer o que quiser.

O escritório, que Gisele usava há três anos, tinha sido decorado por ela com cuidado, desde os móveis maiores até os pequenos adornos e plantas. Agora, Nanda queria mudar tudo. Simão esperava que isso fosse abalar Gisele de vez.

No entanto, para sua surpresa, Gisele continuou indiferente, concentrada em seus documentos, sem dar qualquer atenção ao que acontecia ao redor.

Simão riu, irritado. "Muito bem, quer insistir nesse joguinho? Ótimo!" Ele ainda tinha planos de organizar um novo pedido de casamento no fim de semana, mas, ao ver sua atitude, decidiu que não valia mais a pena.

Perto do horário do almoço, Gisele finalmente terminou de revisar todos os documentos acumulados. Sentindo o pescoço dolorido, ela se levantou para pegar um pouco de água, mas foi surpreendida por um colega que lhe entregou uma xícara de café:

— Srta. Gisele, estamos do seu lado. O Sr. Simão passou dos limites desta vez! Não se preocupe, vamos encontrar uma maneira de fazer a Nanda sair daqui.

Gisele sorriu, agradecida, mas respondeu:

— Obrigada, mas não será necessário. Em breve, vou deixar a empresa.

Os colegas ficaram boquiabertos:

— Por quê? A empresa está prestes a abrir capital! Sair agora seria entregar tudo de bandeja para os outros!

Gisele balançou a cabeça, sem demonstrar arrependimento. Ela nunca gostou de trabalhar com negócios. Durante todos esses anos, apenas se forçou a continuar para ficar ao lado de Simão.

Quando se formou, seu professor tentou várias vezes convencê-la a seguir com os estudos, mas ela recusou, decepcionando todos que acreditavam em seu talento.

Agora, ela queria reencontrar a si mesma e retomar o sonho que havia abandonado.

Ao perceberem que Gisele estava decidida, os colegas não insistiram mais.

Embora estivesse completamente desiludida com Simão, Gisele sentia um aperto no coração ao pensar em seus colegas, com quem convivera por tanto tempo.

— Hoje à noite, quero convidar todos vocês para um jantar de despedida.

Ela escolheu o restaurante mais luxuoso de Cidade São João. Uma mesa cheia de pratos especiais foi organizada, com várias garrafas de champanhe.

Assim que os copos foram levantados, o ambiente ficou animado. Alguns de seus colegas que estavam com ela desde o início ficaram emocionados, com os olhos marejados:

— Srta. Gisele, é uma injustiça o que aconteceu. Não podemos acreditar que a Nanda conseguiu tomar o seu lugar assim!

— E o Sr. Simão? Ele é cego? Nanda não tem nada além de um rostinho bonito. Ela nunca vai se comparar à Srta. Gisele!

Gisele levantou seu copo, sorrindo com tranquilidade:

— Chega, pessoal. Não vamos falar sobre isso. Já estou de saída. Vamos mudar de assunto e nos concentrar em coisas boas.

Mal terminou de falar, sentiu seu pulso ser segurado com força. Uma voz masculina familiar, carregada de raiva, soou atrás dela:

— Gisele, você disse que vai embora?