Rafael desceu o elevador do hospital e seguiu diretamente para o estacionamento. Enquanto dirigia de volta para casa, desejava que Lily já estivesse dormindo. Não queria encontrá-la nem ter que explicar o motivo de não ter voltado mais cedo.
Ao chegar à mansão, entrou em silêncio. Passou pela cozinha e, ao olhar de relance, sentiu um frio na barriga. Toda a comida que Lily havia preparado estava posta sobre a mesa — mas havia apenas um prato: o dele. Um vazio apertou seu peito. Sem entender, apenas pegou um copo de água e subiu para tomar banho, organizar suas coisas e voltar ao hospital.
Lily, que já estava dormindo, acordou com o som do chuveiro. Caminhou nas pontas dos pés até a porta do quarto e escutou Rafael tomando banho. Sentiu-se feliz por ele ter voltado para casa.
— Você já jantou? — perguntou, em voz baixa.
— Já — respondeu ele, seco.— Está chegando nosso aniversário de casamento. O que você gostaria de fazer?
— Não precisa me lembrar disso. Se eu quiser fazer alguma coisa, eu direi. Você pode escolher qualquer presente. Algum empregado vai te acompanhar ao shopping para ajudar.O coração de Lily se apertou. De novo, ele não queria fazer nada?
— Mas eu pensei que talvez pudéssemos fazer algo juntos... Já são cinco anos. E, nesse tempo, nunca saímos nem mesmo para jantar. Você nunca é visto comigo, mas sempre está com a Catarina...
— O que está insinuando? — cortou Rafael, com a voz fria.
— Não estou insinuando. Estou dizendo a verdade. Você nunca aparece ao meu lado, como sua esposa. Mas está sempre nos holofotes com a Catarina. A mídia acha que vocês são o casal do ano, perfeitos juntos. Ninguém sequer sabe que você é casado... com a prima dela! O que está acontecendo com você?
Rafael sentiu o corpo queimar. Estavam casados há cinco anos... o que mais ela queria? Dinheiro? Roupas? Joias? Ele fora obrigado a casar com ela — e ainda assim agora era pressionado?
— O que acontece entre mim e a Catarina não é da sua conta — respondeu, ríspido.
Trocou de roupa e saiu do quarto sem nem olhar para Lily.
Ela, esgotada, voltou para sua cama e desabou em lágrimas. Sentia-se fraca e humilhada. Parecia que, quanto mais amor oferecia, menos recebia de volta. Perguntou a si mesma quantas noites já havia chorado por conta da própria ingenuidade... e até quando ainda suportaria amar sozinha.
Na manhã seguinte, o despertador tocou cedo. Com os olhos inchados, dor de cabeça e o peito apertado, ela percebeu que o dia ainda nem havia nascido. Levantou-se, saiu para correr, deu algumas voltas no quarteirão e, ao ver o sol nascer, retornou à mansão. Preparou seu café, tomou banho e se arrumou para o trabalho.
Lily era uma estilista renomada em Londres. Dono da marca La Beauté, dedicara anos de sua vida para construir e fazer sua empresa crescer. Não era orgulhosa, mas se sentia realizada ao ver o sucesso da sua marca. Era uma excelente estilista — e sabia disso.
Enquanto finalizava sua maquiagem, sentiu o celular vibrar na bolsa.
— Bonjour, mademoiselle! — disse Ana com animação. — Que tal fazer companhia à sua melhor amiga no almoço de hoje? Vai, diz que sim! Faz tanto tempo que não nos vemos...
— Hummm, deixa eu pensar... será que devo ir ou não ir? Jogo pedra, papel ou tesoura? — respondeu Lily, rindo. — É claro que eu quero almoçar com você! Onde vai ser?
— Yesss! — vibrou Ana. — Essa é a minha garota! Que tal no Bon Appétit?
— Perfeito! Já te mando mensagem pra combinarmos o horário, tá bom?
— Certo, gatona. Nos vemos! Beijoooos!
— Beijos!
Depois da ligação, Lily sentiu-se um pouco melhor. Evitava falar sobre Rafael com Ana, pois sabia que a amiga não gostava muito dele. Mesmo sem tocarem abertamente no assunto, tinha a impressão de que Ana percebia o quanto o relacionamento era conturbado.
Lily estacionou o carro em frente ao shopping e respirou fundo. O dia seria cheio. Havia relatórios para revisar, tecidos para aprovar e detalhes para ajustar. Um grande desfile aconteceria no final do ano — e ela estava a todo vapor na preparação.