Enquanto Lily passava pelo corredor do shopping, não pôde deixar de notar alguns comentários vindos de um grupo próximo:

— A dona Catarina faz bem o tipo dele, não é mesmo?

Lily sentiu um aperto no peito. ''Então ele passou a noite com Catarina? '' Ela não esperava menos. Parecia que tudo ao redor de Rafael girava em torno de Catarina. Se caísse um fio de cabelo dela, ele ia correndo ajudá-la. Enquanto isso, Lily — que fora diagnosticada com anemia meses antes — nunca sequer recebeu uma mensagem do marido perguntando se precisava de algo. Ele só soube da notícia porque a avó dele, que acompanhara Lily ao hospital, ligou para informá-lo.

Tentando afastar os pensamentos e a angústia, Lily mergulhou no trabalho. Passou toda a manhã organizando os preparativos para o desfile. Quando se aproximava a hora do almoço, saiu para encontrar Ana. Ao chegar ao restaurante, avistou a amiga sentada em uma mesa mais reservada, próxima à janela com vista para a cidade.

— Oi, cenourinha! Como você está? — disse Ana, levantando-se para abraçá-la.

— Estou bem. E você, amiga? Faz semanas que não nos vemos.

— Nem me fale! Você não imagina a loucura que está lá no escritório. Estou com um novo projeto em andamento... construir uma mansão, acredita? Achei que seria demais pra mim, mas está indo bem.

— Sério? Que ótimo! Senti tanto sua falta... mas agora entendo o sumiço. — As duas riram.

— E me conta, como está o andamento do desfile?

— Uma correria! Muitas modelos para selecionar, tecidos, relatórios... uma loucura.

— Ahhh, estou tão animada pro seu desfile! Você sempre arrasa, mas sabe que eu fico ansiosa, né? Não vejo a hora de ver todas aquelas modelos na passarela com suas criações... e no final, você entrando, toda elegante! Aaaaah! — Ana falava empolgada, batendo as mãos na mesa.

— Sim, amiga, também estou animada. Só espero que meus tios não façam questão de ir... eles são verdadeiros estraga-prazeres.

— Ai, nem me fale. Mas quem sabe você dá a sorte do seu tio estar em algum clube de strip e esquecer do desfile? — disse Ana, dando de ombros.

— Hmm... não sei não. Quando é pra me humilhar, eles sempre dão um jeito de aparecer. Você conhece aquela família.

— Nem me fale. Mas qualquer coisa eu falo com os seguranças pra barrarem ele!

— Ai, seria ótimo! Mas conhecendo a Catarina, ela vai ligar pro Rafael, fazer birra e dizer que estou impedindo eles de me “apoiarem”. — Lily fez aspas com os dedos.

— Sério, amiga... não entendo como você ainda não deu um basta nessa história. Ela sabe que vocês são casados há anos e mesmo assim não sai do pé dele. Que tipo de relação eles têm? São amantes?

— Pelos rumores, são namorados, noivos... e, claro, o mais belo casal do ano.

— Eu não sei como você aguenta isso. Se fosse comigo, já teria colocado um ponto final.

— Também queria entender como estou aguentando.

— Você viu os tabloides hoje? Disseram que ela caiu da escada e que ele a levou correndo ao hospital. Os paparazzi flagraram tudo. Fiquei chocada.

Ao lembrar da notícia, Lily sentiu o coração murchar. Não queria falar sobre aquilo.

— Não vi a notícia, mas ouvi alguns comentários no caminho para o trabalho.

Ana percebeu que o rosto da amiga ficou abatido. Tentou mudar de assunto para evitar que Lily se entristecesse ainda mais por causa de Rafael.

— Amiga, vou ao banheiro. Espero que a comida não demore.

— Tá bom, cenourinha. Vai lá.

Enquanto Ana estava no banheiro, Lily aproveitou para refrescar o rosto e retocar a maquiagem. Estava se sentindo fraca. Lembrou-se de que logo teria que fazer novos exames para acompanhar sua anemia. Ao retornar à mesa, Ana a olhou com um semblante sério.

— Lily... não quero te assustar, mas aqueles sentados ali na frente... são o Rafael e a Catarina?

Lily levou um susto. Olhou rapidamente na direção apontada e confirmou. Sim, era ele. Rafael. E ali, ao seu lado, estava Catarina. Em cinco anos de casamento, Rafael nunca a havia levado para almoçar. Nunca sequer a convidou para algo parecido. Ela, sua esposa dedicada, era invisível. Mas ali estavam os dois, compartilhando uma garrafa de vinho e pratos cuidadosamente preparados pelo chef. Uma dor sufocante apertou seu peito. Sentia que o ar não chegava mais aos pulmões.

— Você está bem, Lily? Parece que vai desmaiar. O que eles estão fazendo juntos aqui? Isso não é errado? Você é quem deveria estar nessa mesa, não ela!

— Sim. Isso é muito errado... — foram as únicas palavras que conseguiu pronunciar.

— Se quiser, posso pedir pro garçom cancelar nosso pedido e irmos para outro lugar. Você não parece nada bem.

Antes que Ana pudesse chamar o garçom, os pratos chegaram. Lily olhou para o macarrão servido à sua frente, sentiu o aroma delicioso e, tentando manter a compostura, pegou os talheres.

— Não. Vamos ficar. A comida deve estar maravilhosa. — disse, forçando um sorriso e levando o garfo à boca.

Ana, sem saber como ajudar, apenas a acompanhou, dividindo com ela aquele silêncio pesado e cheio de tudo o que Lily não conseguia dizer.