Após ser preso, tive direito a, ao menos, um telefonema, até porque, no passado, fui um visitante assíduo dessa delegacia, e agora voltei. Liguei imediatamente para Yan, em plena madrugada. Quero ver se ele é meu amigo agora. O telefone chama, chama, e, enfim, Yan atendeu.
— Tarso, alô? — Yan fala do outro lado da linha. — Estou preso, Yan. Quero você aqui e agora. Ouvi só a sua respiração do outro lado da linha, e ele desligou o telefone. Sem muita conversa, alguns minutos foram necessários, e ele finalmente chegou, se identificando. Ao me ver, ele põe a mão na cintura. — Você está aqui de propósito, não é? — Yan pergunta. — Lógico que não, Yan. Aquela turma toda é para você defender. Pode pagar a fiança de todos. — Tarso, você é o homem mais louco que conheci na vida e, o pior, sem limites, sem rédeas. Sorrio, debochando dele, e Yan, em plena madrugada, começa soltando a turma, menos Kell, porque a Ferrari é minha. Na cela de frente para a dele, Kell e eu discutimos devido à aposta. Enfim, chegamos a um acordo: a Ferrari será vendida, e a metade do dinheiro será doada para um orfanato. Já amanhecendo, ele foi solto, e eu fiquei na cela. Dormi e, quando acordei, não sabia que horas eram, mas Yan vinha entrando. — Agora é a minha vez, Yan? — pergunto, animado. — Infelizmente, não. O juiz negou o seu habeas corpus e o pagamento da fiança. Eu falei, Tarso. — Conversa com a porra desse juiz. Compra ele, se possível. — Tive a oportunidade de conversar agora há pouco com o juiz, que se chama Elvis Fakin. A sua ficha de travessuras aqui é extensa e, para piorar mais o seu dia, ele está namorando a sua mãe. — É o quê? — pergunto, alto. — Descobri isso muito antes de quase chorar aos pés dele. Você está nas mãos da sua mamãe, mas não me ouve. Faz o que dá na cabeça. — Droga, está explicado agora — grito, totalmente transtornado na cela. — Se acalma, Tarso. Farei o que estiver ao meu alcance. Já entrei com todos os recursos. — A, mas, se a senhora Elis deixar-me preso, juro que farei uma rebelião no presídio. Falo, e Yan é chamado porque o seu tempo acabou. Fico com as mãos na cabeça, tentando me acalmar. Deito-me e, com o passar das horas, chega comida e água, mas não bebi. Não confio em ninguém. A minha mãe, a essa hora, deve querer me matar. Não posso confiar. — Visita para você, playboy — o agente policial fala. Levanto-me depressa, pensando ser Yan, mas, pelo som dos passos, sei que é uma mulher! Ela veio sorrindo, olhando com nojo a cela que estou. Nos encaramos, e ela diz: — Você, como sempre, querendo chamar atenção com o seu vandalismo e rebeldia. Já é um homem adulto e não se cansa de me afrontar, de querer jogar na lama o nome da minha família. — Da nossa família, até onde sei, ainda faço parte dos Navarros — falo, sorrindo para deixá-la nervosa. — O seu sonho é me matar de raiva, não é, Tarso? Mas não vai conseguir. Só vim falar uma coisa e, pela primeira vez, manterei a minha palavra: só sairá dessa cadeia de casamento marcado. — Você é que não está com as suas faculdades mentais em dia. — Só conheço um louco aqui, e esse é você! Se quiser ser um cidadão de bem, sairá daqui para casar com Emília. Caso contrário, permanecerá aqui, porque você foi considerado um perigo para a sociedade. — Não vou casar com ninguém. Não quero viver uma farsa, está ouvindo? Não quero ser que nem você e o papai. Seja lá quanto tenha pago essa mulher para viver essa farsa do meu lado, não perca o seu lindo dinheiro comigo. Não vou aceitar. — Essa é a sua última palavra? Estou querendo limpar o lamaçal jogado no sobrenome Navarro e mostrar para todos que você agora vai ser um homem de família. A minha mãe sai da cela, e fico mais nervoso ainda. Quem ela pensa que é para vir ditar regras sobre a minha vida? Pouco me importa se sou alguém perigoso. Quero mais é que tenham medo de mim mesmo.