CAPÍTULO 13
O barulho da chuva contra o telhado me acordou antes mesmo do despertador. Não era uma tempestade, mas o tipo de chuva contínua, paciente, que parecia querer durar o dia inteiro. Eu rolei na cama por alguns minutos, escutando os pingos ritmados como se fossem uma canção esquecida, e só levantei quando meu corpo começou a doer de tanto ficar parado.
O chão frio da casa aos fundos me lembrava constantemente que aquele lugar não era exatamente acolhedor, mas de alguma forma já começava a se parecer comigo — imperfeito, silencioso e cheio de cicatrizes que ninguém via. Preparei um café simples, deixei a caneca sobre a escrivaninha e abri meu caderno de rascunhos. As palavras estavam difíceis de sair, como se o mundo lá fora pressionasse minha mente com o mesmo peso das nuvens.
Foi a batida suave na porta que me tirou do transe.
— Pode entrar — chamei, mesmo sem saber se estava pronta para companhia.
Miguel apareceu com o cabelo molhado, a camisa colada ao corpo e um olhar que