Capítulo 43
Há um tipo de silêncio que só existe perto do mar. Não é como o silêncio das montanhas ou o que a gente sente em estradas longas e vazias. É um silêncio que respira. Que pulsa com o som das ondas, o farfalhar das folhas de amendoeiras e o canto abafado de alguma música antiga saindo de uma janela aberta. Era esse silêncio que me recebia todos os dias ao sair de casa em Paraty. O projeto que me trouxe até aqui não era tão complexo quanto a restauração do casarão, mas havia uma beleza sutil no desafio: revitalizar o espaço de uma antiga escola de arte, fechada há quase vinte anos, e transformá-la em um centro cultural ativo, sem apagar sua história. Todos os dias, eu chegava antes das oito, com uma prancheta debaixo do braço e o cabelo preso no alto da cabeça. Trabalhava com uma equipe pequena, mas apaixonada, e mergulhava de cabeça em cada detalhe — não por fuga, mas por amor. Ainda