Capítulo 17
O passado não bate à porta, ele arromba, se a gente deixa a chave na fechadura.
Acordei antes do sol. Um reflexo involuntário desde que a reforma começou. Mas não foi o som dos pedreiros chegando ou o motor do caminhão da obra que me despertou, foi o peso dentro do peito. Uma sensação estranha de descompasso, como se algo estivesse fora de lugar. Como se eu estivesse.
Desde a reunião com André no dia anterior, meu corpo parecia ter entrado em estado de alerta. Embora tudo entre nós tenha se mantido no mais absoluto tom profissional, havia um incômodo latente embaixo da pele. E, se eu fosse honesta comigo mesma, não era apenas por vê-lo ali, na posição de representante da empresa que executaria a reforma do casarão. Era pelo jeito como ele se portava. Impecável. Indiferente.
Como se nunca tivesse me quebrado.
Era isso que doía.
Vesti minha roupa de trabalho e prendi o cabelo em um coque rápido. A pequena casa aos fundos do terreno me dava alguma distância dos ruídos constan