Capítulo 18
O passado não desaparece quando a gente vira as costas. Ele espera, silencioso, pelos momentos em que mais estamos vulneráveis.
O casarão parecia respirar junto comigo. Cada passo meu pelos corredores revelava histórias guardadas nas paredes, marcas de tempo sobrepostas, camadas que precisavam de cuidado, paciência... e coragem. Um processo que me exigia tanto mais do que apenas técnica.
Os dias desde o reencontro com André se arrastavam numa rotina delicada, como caminhar sobre vidro. Tínhamos conseguido manter uma convivência profissional, mas havia sempre um risco latente de algo escapar. Um olhar prolongado, uma insinuação fora de lugar, uma lembrança esbarrando no presente.
Ele havia recuado, por enquanto. Talvez entendesse que não havia mais espaço. Talvez fingisse entender. De qualquer forma, minha mente andava dividida entre proteger minhas fronteiras e não deixar que isso afetasse a qualidade do trabalho.
Miguel, por outro lado, tornava-se meu alicerce silencioso.