Capítulo 32
Era uma terça-feira como tantas outras. Uma daquelas manhãs em que o sol nascia tímido entre as nuvens, e o cheiro de café se misturava com o da madeira antiga do casarão. Eu já me acostumava com a rotina: acordar cedo, caminhar até o casarão, me perder entre as camadas do tempo que cada parede escondia.Aquela era minha vida agora. E por algum motivo que eu não sabia explicar, isso bastava.Miguel me esperava na varanda dos fundos, como fazia quase todos os dias. Ele tomava café num copo de vidro simples, o olhar fixo no horizonte como se tentasse decifrar o dia antes que ele começasse. Ao me ver, sorriu. Aquele sorriso leve, quase imperceptível, mas que agora eu sabia decifrar com a precisão de quem lê entrelinhas de uma carta antiga.— Dormiu bem? — perguntou.Assenti, sentando ao seu lado.— Sim. Tive um sonho estranho, mas... bom. Acho que era sobre permanência.— Permanência? — ele arqueou uma sobrancel