CAPÍTULO 27
A previsão era de mais uma semana chuvosa, mas naquela segunda-feira o sol surpreendeu a cidade. Os raios atravessavam as janelas do casarão, iluminando poeiras antigas que dançavam no ar como pequenas memórias em suspensão. Eu já estava ali quando Miguel chegou, e ele apenas sorriu ao me encontrar ajoelhada diante de uma parede descascada, tentando identificar se aquela camada de azul celeste era original ou fruto de alguma restauração malfeita.
— Você vai acabar virando parte dessa parede. — ele disse, colocando uma xícara de café ao meu lado.
— Já me sinto parte dela. Tem algo nessa cor... não sei explicar. Parece que ela guarda um segredo.
— Ou uma ferida. — Miguel completou.
Levantei os olhos para ele. Miguel parecia mais tranquilo, mas não menos atento. Havia algo em seu olhar que mudava sutilmente nos últimos dias. Como se ele estivesse, pouco a pouco, se permitindo enxergar o futuro sem medo de esquecer o passado.
Deixei a parede por um instante e nos sentamos na v